domingo, 18 de dezembro de 2011

Boas Festas!

Cartão de Natal
João Cabral de Melo Neto

Pois que reinaugurando essa criança
pensam os homens
reinaugurar a sua vida
e começar novo caderno,
fresco como o pão do dia;
pois que nestes dias a aventura
parece em ponto de vôo, e parece
que vão enfim poder
explodir suas sementes:
que desta vez não perca esse caderno
sua atração núbil para o dente;
que o entusiasmo conserve vivas
suas molas,
e possa enfim o ferro
comer a ferrugem
o sim comer o não.


Desejamos a todos os nossos leitores Boas Festas e Feliz 2012 !
Estaremos de volta na 2ª semana de janeiro.
Até lá e grande abraço a todos!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Dormir de porta fechada






















' Não sei o que fazer, minha filha vem toda noite para minha cama'. ' Às vezes a gente acorda e ela já está no meinho...' ' Fico com pena, ele tem medo à noite, e não quer ficar sozinho...' Variam as palavras, a classe social, o grau de instrução dos pais, mas essa questão se repete com frequência.
Quando colocam a situação os pais já sabem, de alguma forma, que ela não deveria ocorrer. Sentem-se pessoalmente incomodados, ou já ouviram falar que filhos não devem dormir com os pais, e consentir lhes dá certa culpa... 
A hora de dormir é, por essência, de relaxamento e intimidade. O momento propicia conversas e contatos corporais mais soltos. Será adequado para uma criança, com seu corpo infantil, estar presente? Ficar na cama dos pais, mesmo quando estão apenas dormindo, convida a criança a participar de uma intimidade da qual deve estar excluída. O contato com o corpo adulto nesta situação pode levar a percepções e sensações alheias ao universo infantil e, por esse motivo, violentas. Ao contrário do que se espera, a proximidade aumenta a angústia da criança, tornando-a insegura para outras oportunidades da vida como dormir em casa de amigos, viajar sem os pais, separar-se deles de alguma maneira.
Dá trabalho ajudar os pequeninos a permanecerem no seu espaço quando acordam perturbados. O adulto tem que sair do seu quentinho, ficar sonolento, decidir quem do casal executará a tarefa... Mas vale a pena acalmar a criança o quanto for necessário para que permaneça em sua cama. Haverá um enorme benefício, em vários aspectos, para todos os envolvidos . Os pais estarão mostrando ao filho os lugares de cada um na família, o que é muito importante para a construção de sua identidade. Este, por sua vez, se fortalecerá ao verificar que pode permanecer sozinho; além disso, será protegido de uma exposição nociva. 
O casal, por sua vez, ficará livre para as próprias vivências, encontros e desencontros que só a ele devem interessar. É bastante comum que a presença da criança sirva para os adultos aplacarem suas angústias, medos, solidão, sentimentos que normalmente assombram a todos, especialmente à noite. Seria interessante fazer uma reflexão a esse respeito, pois corre-se o risco de inverter os papéis, sobrecarregando a criança com o sofrimento dos mais velhos.
Há muitas ocasiões para compartilhar o prazer de estar junto. Mas na hora de dormir, o melhor é fechar a porta!
Marcia Arantes e Helena Grinover
Caso seu filho apresente dificuldade persistente, marque um horário para conversar























sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Por que presenteamos?




Tereza tem um irmão um ano mais velho. Certo dia, por volta dos três anos e meio de idade, ela se aproxima da mãe e pede: 'Mãe, você me compra um pipi?' Bastante atrapalhada, como podemos imaginar, a mãe lhe dá uma resposta ponderada, educativa: 'filha, você é uma menina e são os meninos que têm pipi, meninas são diferentes'. Ao que a garota retruca: 'tudo bem, pode me dar um cor de rosa'.
Na idade de Tereza, as crianças ficam atentas a essas diferenças de gênero baseadas na percepção visual do que eles têm e a elas falta. A partir desse momento, os presentes podem adquirir um novo significado que o pedido ilustra claramente: a vontade de receber o que aparentemente está faltando, com a ilusão de que se o possuísse a vida seria maravilhosa. A força desse desejo é tal que a garotinha não leva em conta as dificuldades da realidade e resolve a questão com a ideia criativa de um pipi cor de rosa. A mãe, nessa história, é vista como quem tem o enorme poder de tornar real a façanha, o que seria absolutamente mágico!
Receber o presente muito desejado proporciona por instantes a falsa sensação de felicidade completa. Por outro lado, dar o presente produz também um prazer de caráter ilusório na pessoa que está presenteando, o poder de realizar essa felicidade no outro... Ambos vivem o que Tereza propõe à sua mãe, um delicioso momento mágico!
Entretanto, vale lembrar que os pais são modelos para seus filhos, e a premência em atender a todos os pedidos, termina por transmitir a ideia de que é insuportável não ter tudo que se quer.
Ao contrário, o sentimento de falta abre a possibilidade de outros prazeres, muda a maneira de se satisfazer. Mostrar tranquilidade em relação a isso pode ser bastante educativo.
Os adultos podem evitar as correrias deflagradas pelas listas de Natal, que transformam as pessoas em um 'Papai Noel atarantado' percorrendo os shoppings, oferecendo presentes 'surpresa' ou até deixando algo a desejar...

Helena Grinover e Marcia Arantes