terça-feira, 24 de abril de 2012

Meu filho precisa se defender!

'Meu filho me contou que um coleguinha bateu nele na escola. Eu perguntei: e você, fêz o quê? Bateu de volta? Acho que ele precisa aprender a se defender, e não ficar só chorando', conta a mãe de um menino que como tantas outras enfrenta essa situação.

É muito comum que crianças pequenas se expressem batendo nos colegas mais próximos, com quem costumam brincar. Mostram dessa forma desejos e sentimentos contradítórios: raiva, medo, vontade de se aproximar, de fazer contato, insatisfação, amor. São comportamentos com significados diversos do que teriam para um adulto, e seus efeitos são também diferentes.Vemos amiguinhos se agredindo e logo em seguida brincando juntos , sem sinal de ressentimento.
É muito bem-vinda a preocupação dos pais e professores sobre o que ensinar aos filhos e alunos para que  se protejam e evitem ser objeto de violência. Mas não parece uma boa ideia sugerir que reajam 'batendo de volta'.
Cabe aos educadores ajudá-los a entender o que estão querendo expressar no momento em que batem, e a buscar outras formas comunicação.  É importante orientar o 'agredido' a não aceitar a agressão, respondendo com palavras ou atitudes e o agressor a encontrar outra via de liberação dos seus impulsos. Esse é um trabalho que  exige persistência, pois os pequeninos vão demorar a aprender e a cada idade haverá recursos adequados para essa nobre tarefa. 
É importante para a criança aprender a dizer 'não quero que você faça isso comigo', afastar a ameaça, ou buscar ajuda de um adulto se não der conta da situação. Mas, ao  aconselhar que reaja batendo, podemos levá-la a se confundir ainda mais, pois se verá igual ao agressor, fazendo exatamente aquilo que não gostou de ver o outro fazer. É uma proposta para se igualar por meio do comportamento indesejável que não ensina a convivência com as diferenças entre seus semelhantes.
Seria um ótimo momento para mostrar a ambos a possibilidade de se expressar verbalmente e de colocar os próprios limites. Afinal, a habilidade de usar a linguagem para se defender é um grande privilégio da humanidade!

Marcia Arantes e Helena Grinover
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quarta-feira, 18 de abril de 2012

A cara da escola


















Aos três anos de idade, Fred foi para a escola. Após algumas semanas começou a apresentar novas expressões  faciais, choros diferentes dos habituais, cenas mudas, que antes não fazia. Sua mãe logo percebeu que ele repetia exatamente o que havia visto protagonizado por coleguinhas de classe. Chegou a lhe falar sobre o assunto dizendo que este não era ele, mas o fulaninho. Fred, no entanto, continuou e parecia fazer isso dirigindo-se intencionalmente a sua mãe.
A entrada na escola mergulha os pequenos nos contatos com os semelhantes, e pode causar  fortes movimentos em que se apropriam do que vêm nos outros por meio de uma imitação.
É possível notar que as crianças, a partir do segundo semestre de vida e durante alguns anos, têm um talento especial para imitar. Elas conseguem reproduzir as imagens, os sons, os trejeitos dos demais, especialmente dos que têm idades próximas. Podem também fazer isso com personagens de estórias, bichinhos... Essa maneira de praticamente absorver a 'cara' do outro é o início de um processo de constituição da própria personalidade que começa pelas imagens. É quase como se seus semelhantes fossem um espelho onde a criança se olha e fica igual ao que vê. Depois isso se modifica e cada um passa a ter a sua 'cara'.
É compreensível a aflição dos pais ao notarem essa influência dos companheiros sobre seus filhos, especialmente quando imitam comportamentos que desagradam. Entretanto, esse é o caminho da inclusão na vida social, não há outra maneira de fazê-la. Mas a convivência com a família,  nos primeiros seis  ou sete anos de vida, ainda é  a contribuição mais  forte na formação do futuro cidadão, com seus modelos, valores e referências.
Fred mostra à mãe o que vê e o que o impressiona na convivência com os colegas, mas aos poucos irá transformar essas 'performances' para configurar estilos de vida seus, particulares e únicos. Construirá seu próprio desenho!

Helena Grinover e Marcia Arantes
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terça-feira, 10 de abril de 2012

Crianças aprisionadas na tela


















O cenário varia: a mesa do restaurante durante o almoço em família,  a sala de estar em um momento de conversa informal,  o carro... Enquanto os grandes conversam,  uma criança não tira os olhos do joguinho eletrônico, sua atenção está totalmente tomada.

Os adultos intervêm, geralmente recriminando ou ameaçando: 'Não há meio de largar isso?! Já falei prá parar!! Vou tirar de você!'.

O jogo, por si, não é bom nem ruim: tudo depende do uso que se faz dele. Pode ser um entretenimento relaxante, um desafio, uma curiosidade, até uma vontade de conhecer o que os amigos comentam para poder conversar com eles. Mas também pode ser um refúgio constante para escapar de dificuldades, seja  nos relacionamentos interpessoais, seja em relação a determinadas tarefas. No território do jogo  ninguém interfere na ação da criança, cabe somente a ela dominar o ambiente e vencer; fica estabelecido um lugar sem as frustrações da vida real. Esse é um terreno propício à construção de um 'vício', ou seja, aquilo que não é feito por escolha, mas por não conseguir deixar de fazer.

Seria interessante que os adultos, antes de recriminar, se questionassem sobre o que está acontecendo. Uma pergunta, ou um comentário,  podem ajudar o pequeno ser a 'se conectar com  os humanos'.  'Essa conversa está chata, né?' ' O que você está fazendo ai, estou curioso para saber!' .  'Ah, entendi, você está jogando para se distrair? Ou poderá ser dito algo como: 'isso aqui é muito legal, coisa e tal...' Trata-se de um convite, uma oportunidade para se expressar, que muda o jogo. A criança sai de dentro da tela, fica incluída no grupo, passa a existir de novo! Mesmo que continue a jogar, certamente será de uma maneira  menos automática...

Marcia Arantes e Helena Grinover
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terça-feira, 3 de abril de 2012

Que barriga é essa?

Eduardo tem quatro anos, e atualmente anda fazendo umas coisas que intrigam os pais. Sua mãe está no quinto mês de gravidez  e já arrumou parte do enxoval do irmãozinho. Um dia desses ela encontrou  várias roupinhas do bebê enfiadas nas gavetas de Eduardo. Em outro momento, quando mostrava a uma amiga algumas peças  percebeu a cara fechada com que ele as tirava rapidamente das mãos dela e guardava: "deixa, vou guardar"... E assim tem feito, sempre que alguém vai ver as novidades.

O comentário das pessoas é de que ele está com ciúmes. Evidentemente, a espera de um irmão desvia a atenção dos que estão ao redor da criança e os ciúmes são inevitáveis, pois fica claro para ela que há um "concorrente na praça" dividindo os cuidados, especialmente da mãe,  ocupada pela barriga.

Mas há mais mistérios na história. Nessa idade, meninos e meninas estão às voltas com  o que significa fazer parte do universo feminino ou masculino. Quais são as diferenças, as vantagens de cada um? Como é que alguém se torna  pai ou  mãe? Tudo que se refere ao processo de geração dos bebês lhes interessa sobremaneira.

As atitudes dos adultos com a gestação, as preocupações, as idas ao médico, as mudanças na casa, o orgulho das mulheres grávidas, fazem da barriga que cresce um bem  precioso. Entretanto, o que há lá dentro, de fato, ainda permanece nebuloso, gerando uma enorme curiosidade e um importante trabalho de exploração e pesquisa feito pelos pequenos. Assim eles desenvolvem  determinados aspectos da inteligência. Várias estórias para crianças  como Chapeuzinho Vermelho, Pinóquio, referem-se a esse enigma das barrigas de onde, magicamente, saem pessoas vivas.

As roupinhas de bebê, por exemplo, podem ser vistas como pedacinhos reveladores, pertencentes ao tesouro que a mamãe carrega. Nesse caso, Eduardo nada mais faz do que se  apossar de parte disso que tanto lhe  interessa e também não gosta nada de ver os outros pondo as mãos nessas preciosidades...É como se ele guardasse escondida uma pequena 'barriga',  engavetada para não dividir com ninguém.

Leituras e conversas  sobre o tema, que respeitem a idade e a capacidade de compreensão, são uma boa opção para incluir os irmãos mais velhos no período da gestação materna.

Helena Grinover e Marcia Arantes
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