terça-feira, 19 de março de 2013

Quando ele crescer...

















Algumas crianças, cujas idades variam de 2 a 3 anos, estão brincando. São observadas por tios, avós e pais que tecem comentários sobre as brincadeiras. 'O Pedrinho, adora desmontar carrinhos. Esse vai ser mecânico!' 'E a Manu com o pianinho, tem jeito para artista!' ' Nossa! Aquele é bravo, gosta de mandar, vai ser líder!' E por aí seguem as observações a respeito do futuro desses cidadãos...

Muitas vezes os adultos, desde muito cedo, identificam características nos bebês e projetam essas habilidades para seu futuro. Gostam de visualizar esses pequeninos crescidos, desenvolvendo seus talentos, ou se aproximando dos anseios familiares. Isso é importante para a criança, na medida em que essas formulações vão fornecendo a ela elementos para que construa  uma noção de que vai crescer,  já tem um lugar reconhecido, uma existência no mundo...
Por outro lado, quando essas atribuições são frequentes e se repetem, podem restringir os interesses da criança, no lugar de ampliar sua visão. As escolhas de trabalho  vão depender de muitos fatores que só se cristalizarão após a adolescência. 
As brincadeiras infantis são um exercício de apreensão do mundo, e de expressão de fantasias e sentimentos, que pouca relação estabelecem com as ações da vida adulta. Dar a essas atividades o nome de 'ser mecânico', ou 'ser musicista', restringe e altera suas finalidades. Quando o Pedro desmonta carrinhos, está a quilômetros de distância do que faz um mecânico. Pode ser, por exemplo, que ele esteja exercendo sua curiosidade a respeito do que há no interior das coisas, do que está escondido. E isso pode levá-lo a muitas outras possibilidades de investigação...
 A Manu pode ter muito jeito para tocar piano, mas tem também uma série de outros interesses que não são  valorizados pelos adultos que a cercam. Com isso, suas alternativas ficam cerceadas.

Marcia Arantes e Helena Grinover

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terça-feira, 12 de março de 2013

A criança procura sua `tribo´

























Rose, garotinha de 4 anos, nasceu fora do Brasil. Conversando com familiares que moram aqui, referiu-se a uma menina que conheceu no país onde vive, com a seguinte frase: 'ela fala como a gente'.
O comentário é notável, pois ilustra a maneira como esta criança, que vive em um país estrangeiro, define a nova amiga. Os pequenos estabelecem relacionamentos procurando pontos de igualdade que aproximam: ' conheci um menino na festa, ele tem uma bicicleta 'igual a minha'. Ou então: 'aquele é o meu colega, ele também tem um cachorro'.
Estas comparações servem para entender quem é quem. A escolha do critério utilizado para isso mostra o que cada criança percebe como sendo 'a marca da pessoa' em determinado momento. Para Rose, o que é relevante e chama logo sua atenção é a língua falada pela outra. Ela indica, com essa observação, que se sente parte de um grupo distinto da maioria, embora também reconheça que pertence aos círculos formados pela escola, bairro onde mora, país em que vive, onde pode encontrar amigos que falam a outra língua.
Para a criança é muito importante descobrir a 'tribo' a que pertence. Isso é fundamental para constituir sua personalidade, formar uma noção de si mesma. Os pequenos olham bastante para as aparentes diferenças ou semelhanças em relação aos outros. Podemos dizer que ficam buscando ver neles o que pertence ou não à sua comunidade, se há algo em comum ou não.
É interessante ouvir o que dizem sobre esse trabalho que fazem com grande empenho, pois ele revela como a criança pensa e sente a sua identidade.

Helena Grinover e Marcia Arantes

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quarta-feira, 6 de março de 2013

Escola e pais: jogo de empurra.






















Na saída da escola, duas mães conversam: "A professora me chamou e disse: 'seu filho não está estudando'. Então eu perguntei: `e o seu aluno está?'..." Ambas riem e continuam os comentários sobre deveres, reclamando da escola num tom de desagrado. 
Esta mãe, nitidamente, sentiu-se cobrada, e devolveu na mesma moeda a responsabilidade. Trata-se de uma confrontação que parte do pressuposto de que, se algo não vai bem, há de haver um incompetente na história: são os pais ou a escola...
Estabelece-se uma relação de rivalidade e fica formado um jogo em que todos saem perdendo. A professora, sem possibilidades de ação, perde o diálogo com os pais, que deixam de assumir sua parcela. Ao usar o tratamento `seu filho´ a mestra já começa uma confusão quanto às diferentes posições ocupadas pela criança. Esta, principal perdedora, fica sem lugar: nas palavras da escola é situada como ‘filho’ e por sua mãe é chamada de ‘aluno’. Provavelmente, o destino dessa conversa seria outro se a professora dissesse algo como: o ‘fulaninho’, não está estudando. O que podemos fazer?’
Para que a família e a escola possam chegar a um acordo de colaboração é necessário, antes de mais nada, que o desempenho do aluno deixe de representar o sucesso ou fracasso de um dos participantes do processo educacional. Desta maneira, os sentimentos individuais, sempre difíceis de enfrentar, podem se deslocar e dar espaço ao trabalho comum, voltado para a criança. Nossa sociedade tem colaborado para  aumentar essa dificuldade, esvaziando o prestigio dos professores e sobrecarregando os pais nesse 'salve-se quem puder' da atualidade. 
Apenas a partir de uma conversa entre pessoas que estejam tranquilas com seus próprios limites e frustrações é que surgirão soluções criativas e responsáveis.

Marcia Arantes e Helena Grinover

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