segunda-feira, 23 de maio de 2011

A lição de casa


















A mãe chega em casa após o trabalho, cansada, esbaforida e pergunta: ‘filho, já fez a lição?’. Se a resposta for negativa, inicia-se a celeuma: 'se não fez, não pode ficar no computador, já combinamos, é sempre assim, porque você não obedece, etc, etc...' Rapidamente a situação fica tensa, regada a lamúrias e ameaças.
Outra situação: a mãe tem como trabalho as atividades domésticas, entre elas, supervisionar a lição dos filhos. Nesses casos pode acontecer que o ‘supervisionar’ escorregue sutilmente para tomar para si as tarefas escolares, a ponto de completar partes de próprio punho, fazer pesquisas na internet e por aí afora.
Em princípio, a lição de casa deve ser o momento valioso de firmar conhecimento, de ousar hipóteses, ou de se deparar com dúvidas. Para isso é fundamental que a criança esteja numa saudável solidão, para se concentrar sem a demanda ativa do adulto, que deve oferecer suporte apenas quando necessário.
Também é importante que ela possa arcar com o que ocorrerá na escola se não tiver feito a lição. Isso possibilita que ‘tome posse’ do conhecimento, assuma a escola como parte de sua vida e se responsabilize por ela. Por aí poderá encontrar o prazer envolvido no aprender, no exercício da curiosidade, no desafio. Caso contrário, a escola fica sendo uma parte da vida em que ela tem que realizar o que interessa aos pais, sentindo-se submetida a algo contra o qual poderá se rebelar.
Muitas vezes a lição se converte em moeda de troca, o conhecimento se torna obrigação e os pais transmitem, inadvertidamente, a mensagem de que estudar é chato, bom é videogame...

Marcia Arantes e Helena grinover
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segunda-feira, 16 de maio de 2011

Brinquedos que consomem

As crianças, ao brincar,  criam uma série de estórias, vão imaginando e transformando mentalmente seus brinquedos, que adquirem uma vida construída por elas. Podemos ver isso nas falas que acompanham as brincadeiras e que os pequenos em geral não gostam que os adultos ouçam, pois revelam suas intimidades.
Os brinquedos atualmente já vem cheios de desempenhos: bonecas que choram lágrimas, falam, cantam, fazem xixi. Os carros, os aviões, são tão performáticos quanto os verdadeiros. As crianças têm que descobrir uma brecha onde o brinquedo lhes permita inventar algo próprio, ao invés de só apertar botões.
O mais triste dessa história é que em muitas famílias o dinheiro necessário para outras coisas é gasto nesses apetrechos dispendiosos e pouco importantes para o prazer e a função de brincar. Já ouvi uma mãe dizer: "lá em casa falta dinheiro, mas brinquedo não falta não..."
O importante é que brincar não é igual a ter brinquedos, basta ver o que os pequenos fazem com objetos como pregadores de roupa, tampas de panela, retalhos de pano e uma infinidade de coisas. É com isso e com brinquedos mais simples que a função do brincar melhor se realiza. Muitas vezes os automatizados apenas ficam na estante.
Com brinquedos tão próximos da realidade, corremos o risco de inverter a posição do agente na brincadeira. Outro dia, numa brinquedoteca, ouvi uma menina perguntando à mãe: ' o que essa boneca faz ?' Seria bom perguntar à garota o que ela gostaria de fazer com a boneca...


Helena Grinover e Marcia Arantes
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Birras 2


















Estou caminhando por um clube bastante tradicional da cidade de São Paulo, quando vejo um garoto de aproximadamente quatro anos chorando muito e urrando "mãe vem aqui !". A jovem mãe caminhava e se afastava lentamente, aparentando calma e tranquilidade, sem olhar para trás. A cena foi tão impactante que várias pessoas ficaram paradas, sem intervir, mas também sem deixar de olhar, tal era o desespero do pequeno! Finalmente uma menina de seus oito ou nove anos aproximou -se do garoto, ajoelhou-se junto a ele, que a esta altura já estava de joelhos e rouco de tanto gritar, e o acompanhou até sua mãe. Parabéns a ela!
Já ouvi mães dizerem: "se faz birra, finjo que não vejo". 
O adulto entende a birra como uma tentativa de controle da criança sobre ele e "faz de conta" que não está sendo submetido. Na verdade está sim submetido a uma cena, que expõe a ele e a seu filho de forma constrangedora.
Educar a criança é ajudá-la a suportar a frustração de não ter tudo o que quer. A mãe desse garoto deixou- o abandonado ao desespero de não saber mais o que fazer, apenas conseguia gritar até ficar sem voz. Perdeu a oportunidade de ensiná-lo a se acalmar e encontrar uma alternativa para o que quer que fosse que o tenha descontrolado tanto.


Helena Grinover e Marcia Arantes
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quinta-feira, 5 de maio de 2011

O corpo descoberto


















"Uma coleguinha do meu filho esta com a mania de abaixar a calça das meninas e dos meninos. Não sei o que fazer". Quem nos diz isso é a mãe de um menino de cinco anos, provavelmente intrigada e surpresa por ver o filho, que há pouco era um bebe, envolvido nessa situação.
Pais e educadores, atualmente herdeiros das descobertas da psicanálise, têm uma noção de que é importante tomar cuidado com as manifestações da sexualidade nas crianças, mas também, frequentemente, ficam confusos com isso. É para impedir, para deixar acontecer, para distrair a criança com outra brincadeira?
Em uma aula de natação de crianças de seis a set anos, um menino, ao ouvir a coleguinha dizer que iria nadar pelada, faz a seguinte exclamação: "Que irado... eu vou morrer de rir!"
O comentário mostra claramente a diferença entre a sexualidade adulta e a infantil. Um homem adulto ao ver uma mulher nadar pelada tem pensamentos e sensações ligadas a suas experiências de vida e ao seu corpo maduro, em nada parecidos com os de um menininho de seis anos de idade. 
Quando essa diferença é desconhecida, geram-se interpretações equivocadas sobre os jogos corporais infantis. Já vimos professores assustados com crianças bem pequenas que se deitam umas sobre as outras e dão muitas risadas.
A garota do primeiro exemplo pode estar curiosa sobre o que há embaixo das calças. Provavelmente já notou a diferença entre meninos e meninas e pode estar querendo "descobrir" mais, desvendar outros enigmas. Pode ficar estimulada com a euforia que se desencadeia na atividade corporal, mas com certeza, tudo isso é muito diferente da excitação sexual dos adultos.
A exploração do corpo e das sensações é bem- vinda quando se dá entre crianças de idades próximas. São prazerosas, e manifestam o impulso para a "descoberta", para o conhecimento. Elas estão brincando e pesquisando os mistérios da vida, a diferença entre os sexos, o nascimento.
O papel do educador deve ser de ensinar costumes, 'na nossa sociedade não vamos para a rua sem roupa' , 'não tiramos a roupa dos outros em público'. Deve também ensinar a respeitar aquele que não queira participar de brincadeiras corporais. Mas isso é bastante diferente de dizer que ' é feio', 'não se deve fazer isso'. Seria o mesmo que dizer 'não seja curioso', 'não investigue', ' não queira saber'.

Marcia Arantes e Helena Grinover
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terça-feira, 3 de maio de 2011

Cada um em seu lugar.

























Na sala da Coordenação de uma escola de educação infantil adentra um garotinho de três anos de idade dizendo chorosamente à coordenadora: "Minha professora não deixa eu brincar com ele", mostrando um pequeno Homem Aranha. Para minha surpresa a coordenadora responde, interrompendo nossa conversa, "eu já vou lá falar com sua professora".
Esse é um exemplo de atitude que vemos repetida em muitas outras situações. Adultos, ao invés de remeterem as crianças para um entendimento com outros adultos, se colocam como solucionadores de suas dificuldades, provavelmente por acreditarem que as estão 'protegendo'. São comuns frases como: "deixa que eu falo com seu pai", "deixa que eu peço o brinquedo para o seu amiguinho".
O que os educadores teriam que perceber é que, no lugar de proteger, tiram delas a oportunidade de aprender a falar, reclamar, resolver suas relações. Além disso, transmitem a ideia de que são incapazes e com isso elas ficam desprotegidas!
No caso dos adultos estarem em desacordo em relação a determinada conduta, seria bom conversarem sem envolver os pequenos que, ainda sem condições de discernir sobre o assunto, sentem-se abandonados vendo questionadas as figuras em quem se apoiam.
É bom para a criança ver que os pais confiam na escola, que a diretora confia no professor, que a mãe confia no pai.

Helena Grinover e Marcia Arantes

Caso observe um sofrimento persistente em seu filho, você pode marcar um horário para conversar: