segunda-feira, 18 de abril de 2011

Mordidas...











"Meu filho foi mordido por um colega!". Coordenadoras e professoras da educação infantil escutam com frequência essa queixa.
Os pequenos, de um a três anos aproximadamente, estão começando a se socializar, a compartilhar. E os pais também estão começando a partilhar esse filho. Ver seu bebê chegar em casa com marcas de mordida é assustador. "Que lugar é esse onde coloquei meu filho"? "O que acontece nessa escola"? "Não é melhor deixá-lo em casa"? São questões inevitáveis!
A mordida é vista como uma agressão violenta, quase insuportável para os pais, mas podemos vê-la de maneiras diferentes.
Morder, nessa idade, é um comportamento muito comum. A boca ainda é um lugar central, por onde se expressam sentimentos, idéias e desejos.
Quando o bebe coloca objetos na boca, ele se apropria desses objetos, torna-os parte dele mesmo, conhece-os. A criança pequena, ao morder outras crianças, pode estar fazendo o mesmo movimento, quer por o coleguinha dentro dela, devorá-lo, como faz com a comida. Por isso, é provável que morda quem ela gosta, como um gesto de carinho. Mas também pode ser que morda para exercer controle, buscando afastar o incômodo da presença do "chato" que tira seus brinquedos.
Essa compreensão evita que rotulemos as crianças que estão se expressando com mordidas de "agressivas" mas de maneira alguma deve servir para que os adultos deixem de assumir seu lugar de educadores junto a elas. Sempre que possível, devem proibir esses comportamentos dizendo: 'não pode fazer isso!'
É importante estimular que outras formas de expressão se desenvolvam, perguntando, por exemplo, algo como "o que você está querendo dizer para o seu coleguinha?".
Uma criança dotada de bons recursos de linguagem tende a abandonar a mordida. Afinal, é isso que a vida em sociedade almeja: substituir 'atos violentos' por 'palavras'.

 Marcia Arantes e Helena Grinover
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http://vivazpsicologia.blogspot.com.br/p/servicos_22.html

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Começa a puberdade


O pequeno indivíduo completa onze, doze anos e começam os questionamentos, as observações sobre os pais. As desobediências ficam fundamentadas, cheias de argumentos. Frases como:"mas você disse...", "porque eu não posso?" ou "isso eu não vou fazer porque..." cansam os adultos. É o início da despedida da infância, começo de uma longa e radical mudança de posição frente a autoridade.
Se para as crianças é importante acreditar que os pais são fortes e sabem o que é bom ou ruim para elas, para os púberes e adolescentes será importante ir pouco a pouco desfazendo essa crença.
Começa a grande tarefa de se preparar para poder viver sem eles, portanto, é necessário "desbancar" os adultos.
Neste período, quanto mais os adultos exigirem obediência cega, do tipo "vai obedecer porque eu estou mandando" mais submetido ou mais questionador o jovem poderá ficar. Se a posição dos adultos for de transmitir hábitos, história, leis, valores sociais, e não de impor os seus próprios desejos, eles irão inserir o futuro cidadão sem submeter a criança. Exemplo, banho é para ter saúde e odor atraente para os outros, e não porque "a mamãe manda".
Para se tornar adulto, é preciso que o adolescente separe as exigências e expectativas que recaem sobre ele dos desejos dos pais, e perceba que estes também estão submetidos ao contexto cultural. Por sua vez, pais podem ajudar muito nesse processo por meio da maneira como se deslocam em suas posições diante das mudanças dos filhos.

Helena Grinover e Marcia Arantes

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quinta-feira, 7 de abril de 2011

Dor no Realengo


O choque com a tragédia ocorrida hoje no bairro de Realengo no Rio de Janeiro nos atinge no que temos de mais caro : nossas crianças.
Foram assassinadas sem nenhuma possibilidade de defesa, na escola, na sala de aula. A brutalidade torna-se maior quando pensamos que essas crianças faziam o que temos como meta para todas as outras crianças: estudavam.
A escola é o local da transmissão do conhecimento, da construção de valores, de proteção. Os tiros e a absurda violência perpetrada romperam subitamente a realidade, trazendo o pânico, o desespero.
Tarefa imediata é enterrar e prantear os mortos. Mas em seguida, se impõe para a escola pensar nos sobreviventes. Crianças e professores foram, com certeza, marcados indelevelmente pelo ocorrido.
Trata-se de amenizar os efeitos nocivos da experiência. Que efeitos seriam esses, não podemos saber, mesmo porque será diferente para cada pessoa.  Podemos imaginar: vão ter pesadelos, vão ter medo de voltar à escola, vão se sentir culpados porque o "meu amigo morreu e eu não", vão culpar a professora, vão ficar doentes, vão achar bacana o poder que o atirador teve, vão ficar curiosos, etc... O melhor que a escola pode fazer por essas crianças é deixá-las se manifestar com todos os recursos simbólicos de que dispõem , pelo tempo que precisarem, da forma que puderem, usando sua liberdade, sem censura de conteúdo, por meio de desenhos, teatros, jogos, músicas, poesia, prosa. As expressões do que pensam e sentem permitirão que o impacto se dilua e haja uma ampliação dos recursos psíquicos por onde novas construções  podem surgir.
É comum os adultos acharem que "ficar falando, piora". Trata-se de uma falsa crença. Desencorajar as expressões infantis em contextos desse tipo, é uma segunda brutalidade, por vezes tão perniciosa quanto a primeira.
A escola terá a chance de contribuir para que essa experiência ensine às crianças que podemos desenvolver formas pacíficas para ultrapassar a dor. Lastimavelmente, o agressor que as aterrorizou não aprendeu essa lição.

Marcia Arantes e Helena Grinover

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quarta-feira, 6 de abril de 2011

Infância violentada?



















Mônica Bergamo – Folha Ilustrada FOLHA DE S.PAULO (06/04/2011): "MEU PRIMEIRO SUTIÃ 1 Um sutiã cor-de-rosa com bojo de espuma imitando o formato de seios é vendido em tamanho para meninas de seis anos em diante, nas Lojas Pernambucanas. O produto leva etiqueta da Disney e tem estampa de Sininho, a fada de "Peter Pan", na calcinha do conjunto, que custa R$ 15,90. A Disney e as Pernambucanas não responderam quem projetou a peça, sua vendagem nem se o bojo infantil é funcional ou estético. MEU PRIMEIRO SUTIÃ 2 Casos similares geraram comoção pelo mundo nas últimas semanas. Nos EUA, a grife Abercrombie retirou de sua loja virtual, na semana passada, um biquíni para meninas de sete anos que tinha parte superior "push-up", que projeta os seios. Na Inglaterra, em março, a rede Primark doou para ONGs de defesa infantil a renda da venda de um biquíni com bojo para meninas de sete anos."

As crianças brincam de usar o salto alto da mamãe, colocam bolas de papel no lugar dos seios, põem almofadas na barriga fingindo serem adultas como suas mães, tias, professoras. Tudo isso se passa no plano da fantasia, da imaginação, numa criação própria da idade e de seu funcionamento psíquico. Outra coisa, muito diferente, é o adulto oferecer à criança um corpo de mulher que ela ainda não tem e propor que circule no espaço da realidade social exibindo esse simulacro. Isso avilta sua identidade infantil, confunde, introduz violentamente o apelo da sexualidade adulta que a criança ainda está longe de alcançar, podendo gerar consequências desastrosas ao seu desenvolvimento.
Bem-vindas, portanto, as manifestações sociais contrárias a esses produtos!


Helena Grinover e Marcia Arantes

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