quarta-feira, 6 de abril de 2011

Infância violentada?



















Mônica Bergamo – Folha Ilustrada FOLHA DE S.PAULO (06/04/2011): "MEU PRIMEIRO SUTIÃ 1 Um sutiã cor-de-rosa com bojo de espuma imitando o formato de seios é vendido em tamanho para meninas de seis anos em diante, nas Lojas Pernambucanas. O produto leva etiqueta da Disney e tem estampa de Sininho, a fada de "Peter Pan", na calcinha do conjunto, que custa R$ 15,90. A Disney e as Pernambucanas não responderam quem projetou a peça, sua vendagem nem se o bojo infantil é funcional ou estético. MEU PRIMEIRO SUTIÃ 2 Casos similares geraram comoção pelo mundo nas últimas semanas. Nos EUA, a grife Abercrombie retirou de sua loja virtual, na semana passada, um biquíni para meninas de sete anos que tinha parte superior "push-up", que projeta os seios. Na Inglaterra, em março, a rede Primark doou para ONGs de defesa infantil a renda da venda de um biquíni com bojo para meninas de sete anos."

As crianças brincam de usar o salto alto da mamãe, colocam bolas de papel no lugar dos seios, põem almofadas na barriga fingindo serem adultas como suas mães, tias, professoras. Tudo isso se passa no plano da fantasia, da imaginação, numa criação própria da idade e de seu funcionamento psíquico. Outra coisa, muito diferente, é o adulto oferecer à criança um corpo de mulher que ela ainda não tem e propor que circule no espaço da realidade social exibindo esse simulacro. Isso avilta sua identidade infantil, confunde, introduz violentamente o apelo da sexualidade adulta que a criança ainda está longe de alcançar, podendo gerar consequências desastrosas ao seu desenvolvimento.
Bem-vindas, portanto, as manifestações sociais contrárias a esses produtos!


Helena Grinover e Marcia Arantes

Caso queira aprofundar o assunto, você pode marcar um horário para conversar.


5 comentários:

  1. Marx falava das 'contradições internas do capitalismo'. Pois é. Esta é uma delas: para poder vender algo, ignora-se limites e necessidades legítimas. Quem faz o sutiã ganha dinheiro, e quem compra e usa perde a infância. O que resulta disso? Uma humanidade des-humanizada. Uma coisa é a espécie humana, como substantivo. Outra coisa é ser 'humano', como adjetivo. Insuflar desejos (demanda, como diz Lacan) artificiais é interromper o desenvolvimento emocional (como diz Winnicott) que leva à humanização - à generosidade e à compaixão, sem as quais o indivíduo continua pertencendo à espécie humana, sem alcançar, no entanto, o status de 'humano' propriamente dito.
    Resumindo: Vender sutiã para criança é pornografia infantil. Cadeia com eles.
    Davy Bogomoletz.

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  2. E como ficam os adultos que compram os sutiãs e os dão às crianças? o que fazer com esses então?

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  3. A questão tem que ser abordada por vários ângulos:o produtor, o revendedor, o consumidor...A criança apenas sofre os efeitos disso tudo.É necessário um longo trabalho de conscientização social, onde as pessoas tomem conhecimento dos efeitos possíveis de ações desse tipo,que muitas vezes desconhecem, e se responsabilizem individualmente por elas.O círculo vicioso do "eu faço porque os outros também fazem" deve ser quebrado.

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  4. Eu vejo esse circulo vicioso em todas as geracões, como se fosse inerente ao ser humano precisar sentir-se igual aos outros e consequentemente aceito. E a mídia entende bem esta fraqueza humana e assim atinge seu público e tira seu lucro. Será que é algo possível de se mudar? Essa conscientização seria maravilhosa, mas tão trabalhosa que me parece impossível...

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  5. Caro Comentarista,
    Concordo com a idéia da exploração que a mídia faz, mas veja essa citação do Dr Figueiró(*): Paulo Freire em a “Pedagogia da Indignação” nos socorre e ensina que “o discurso da impossibilidade da mudança para a melhora do mundo não é o discurso da constatação da impossibilidade, mas o discurso ideológico da inviabilização do possível”.
    Bem vindo então ao trabalho de conscientização que você propõe!Continue conosco, é um prazer recebê-lo neste blog
    Helena

    (*)Dr. João augusto Figueiró http://www.nossofuturoroubado.com.br/arquivos/setembro_09/impacto_infancia.html

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