quinta-feira, 7 de abril de 2011

Dor no Realengo


O choque com a tragédia ocorrida hoje no bairro de Realengo no Rio de Janeiro nos atinge no que temos de mais caro : nossas crianças.
Foram assassinadas sem nenhuma possibilidade de defesa, na escola, na sala de aula. A brutalidade torna-se maior quando pensamos que essas crianças faziam o que temos como meta para todas as outras crianças: estudavam.
A escola é o local da transmissão do conhecimento, da construção de valores, de proteção. Os tiros e a absurda violência perpetrada romperam subitamente a realidade, trazendo o pânico, o desespero.
Tarefa imediata é enterrar e prantear os mortos. Mas em seguida, se impõe para a escola pensar nos sobreviventes. Crianças e professores foram, com certeza, marcados indelevelmente pelo ocorrido.
Trata-se de amenizar os efeitos nocivos da experiência. Que efeitos seriam esses, não podemos saber, mesmo porque será diferente para cada pessoa.  Podemos imaginar: vão ter pesadelos, vão ter medo de voltar à escola, vão se sentir culpados porque o "meu amigo morreu e eu não", vão culpar a professora, vão ficar doentes, vão achar bacana o poder que o atirador teve, vão ficar curiosos, etc... O melhor que a escola pode fazer por essas crianças é deixá-las se manifestar com todos os recursos simbólicos de que dispõem , pelo tempo que precisarem, da forma que puderem, usando sua liberdade, sem censura de conteúdo, por meio de desenhos, teatros, jogos, músicas, poesia, prosa. As expressões do que pensam e sentem permitirão que o impacto se dilua e haja uma ampliação dos recursos psíquicos por onde novas construções  podem surgir.
É comum os adultos acharem que "ficar falando, piora". Trata-se de uma falsa crença. Desencorajar as expressões infantis em contextos desse tipo, é uma segunda brutalidade, por vezes tão perniciosa quanto a primeira.
A escola terá a chance de contribuir para que essa experiência ensine às crianças que podemos desenvolver formas pacíficas para ultrapassar a dor. Lastimavelmente, o agressor que as aterrorizou não aprendeu essa lição.

Marcia Arantes e Helena Grinover

Caso observe um sofrimento persistente em seu filho, você pode marcar um horário:

3 comentários:

  1. Márcia: conte comigo neste blog. Gostei muito do que está sendo tratado nos diversos temas que estão sendo tratados e me irmano a vocês nos comentários. Sim, em relação à tragédia do Realengo no Rio, precisamos falar, compartilhar nossas impressões para fazer a travessia necessária que este tipo de tragédia convoca!
    Josef

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  2. Adoro o blog. Aprendo, revivo, e compartilho com prazer. Obrigada. Raquel.

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  3. Obrigada, Josef! Suas contribuições serão muito bem-vindas, participe sempre que puder, há muitas travessias a serem feitas!!!

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