Tereza tem um irmão um ano mais velho. Certo dia, por volta dos três anos e meio de idade, ela se aproxima da mãe e pede: 'Mãe, você me compra um pipi?' Bastante atrapalhada, como podemos imaginar, a mãe lhe dá uma resposta ponderada, educativa: 'filha, você é uma menina e são os meninos que têm pipi, meninas são diferentes'. Ao que a garota retruca: 'tudo bem, pode me dar um cor de rosa'.
Na idade de Tereza, as crianças ficam atentas a essas diferenças de gênero baseadas na percepção visual do que eles têm e a elas falta. A partir desse momento, os presentes podem adquirir um novo significado que o pedido ilustra claramente: a vontade de receber o que aparentemente está faltando, com a ilusão de que se o possuísse a vida seria maravilhosa. A força desse desejo é tal que a garotinha não leva em conta as dificuldades da realidade e resolve a questão com a ideia criativa de um pipi cor de rosa. A mãe, nessa história, é vista como quem tem o enorme poder de tornar real a façanha, o que seria absolutamente mágico!
Receber o presente muito desejado proporciona por instantes a falsa sensação de felicidade completa. Por outro lado, dar o presente produz também um prazer de caráter ilusório na pessoa que está presenteando, o poder de realizar essa felicidade no outro... Ambos vivem o que Tereza propõe à sua mãe, um delicioso momento mágico!
Entretanto, vale lembrar que os pais são modelos para seus filhos, e a premência em atender a todos os pedidos, termina por transmitir a ideia de que é insuportável não ter tudo que se quer.
Ao contrário, o sentimento de falta abre a possibilidade de outros prazeres, muda a maneira de se satisfazer. Mostrar tranquilidade em relação a isso pode ser bastante educativo.
Os adultos podem evitar as correrias deflagradas pelas listas de Natal, que transformam as pessoas em um 'Papai Noel atarantado' percorrendo os shoppings, oferecendo presentes 'surpresa' ou até deixando algo a desejar...
Helena Grinover e Marcia Arantes
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