Algumas crianças, cujas idades variam de 2 a 3 anos, estão brincando. São observadas por tios, avós e pais que tecem comentários sobre as brincadeiras. 'O Pedrinho, adora desmontar carrinhos. Esse vai ser mecânico!' 'E a Manu com o pianinho, tem jeito para artista!' ' Nossa! Aquele é bravo, gosta de mandar, vai ser líder!' E por aí seguem as observações a respeito do futuro desses cidadãos...
Muitas vezes os adultos, desde muito cedo, identificam características nos bebês e projetam essas habilidades para seu futuro. Gostam de visualizar esses pequeninos crescidos, desenvolvendo seus talentos, ou se aproximando dos anseios familiares. Isso é importante para a criança, na medida em que essas formulações vão fornecendo a ela elementos para que construa uma noção de que vai crescer, já tem um lugar reconhecido, uma existência no mundo...
Por outro lado, quando essas atribuições são frequentes e se repetem, podem restringir os interesses da criança, no lugar de ampliar sua visão. As escolhas de trabalho vão depender de muitos fatores que só se cristalizarão após a adolescência.
As brincadeiras infantis são um exercício de apreensão do mundo, e de expressão de fantasias e sentimentos, que pouca relação estabelecem com as ações da vida adulta. Dar a essas atividades o nome de 'ser mecânico', ou 'ser musicista', restringe e altera suas finalidades. Quando o Pedro desmonta carrinhos, está a quilômetros de distância do que faz um mecânico. Pode ser, por exemplo, que ele esteja exercendo sua curiosidade a respeito do que há no interior das coisas, do que está escondido. E isso pode levá-lo a muitas outras possibilidades de investigação...
A Manu pode ter muito jeito para tocar piano, mas tem também uma série de outros interesses que não são valorizados pelos adultos que a cercam. Com isso, suas alternativas ficam cerceadas.
Marcia Arantes e Helena Grinover
http://vivazpsicologia.blogspot.com.br/p/servicos_22.html
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