sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Mudamos!

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Helena Grinover e Marcia Arantes

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Brincar sozinho




















`Não sei o que meu filho tem, de uns tempos para cá não dá sossego. Por exemplo, ele adora brincar com os carrinhos e com uns bonecos...mas quer que eu fique sentada, olhando. Se eu me afasto um pouco, vou até a cozinha, lá vem ele atrás me chamando, 'maaãe!´. Quando perco a paciência, falo que ele está grande e saio, chora bastante, desesperado. O que fazer, é pura manha?' Esta é a questão formulada por uma participante de nossos grupos de conversa com pais.
Fazer diferença entre manha e desespero pode ser um engano. O importante é o grau de sofrimento, e o fato da criança não conseguir fazer uma mudança nesta situação, que se repete sempre da mesma maneira. 
É possível que o garoto sinta-se mal quando sua mãe se retira porque desaparece junto com ela o mundo criado por ele, em que os brinquedos têm vida e lhe fazem companhia. É um momento em que se perde certa capacidade de separação da mãe, necessária para dar estabilidade ao ato de brincar.
Em geral essa condição se estabelece em torno dos dois anos de idade. Sabemos, entretanto, que ao longo da infância, ou mesmo durante a vida, o olhar de alguém pode, eventualmente, tornar-se  de novo fundamental.
Caso seja possível, a mãe do menino deve garantir, por enquanto, sua presença nesses momentos, até que ele possa firmar um cenário com a imaginação, que não evapore quando ela se afasta. Daí então os brinquedos substituirão a mamãe... 
Manter essa substituição é condição para aumentar a independência, enriquecer a criatividade para estudar, trabalhar, ter prazer na vida.


Helena Grinover e Marcia Arantes

Caso observe um sofrimento persistente em seu filho, você pode marcar um horário:
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quarta-feira, 26 de junho de 2013

Cortar o cabelo dói?



















Todos se preocupavam em  preparar a menininha para cortar o cabelo, pois ela afirmava enfaticamente que não queria, tinha medo. Após muita conversa e afirmações como: 'Você vai ficar linda, cortar cabelo não dói!' ela concordou. Para espanto geral, sentou-se na cadeira e ficou quietinha, acompanhando a movimentação pelo espelho. Ao terminar, a cabeleireira, já tranquila, perguntou: 'Gostou?'. A pequena respondeu, sem pestanejar, 'gostei, mas prefiro como estava antes; pode fazer de novo como estava!' Só então ficou clara a razão de tanta calma e aceitação.
Muitas crianças, especialmente nas idades em torno dos 3 aos 5 anos, têm medo de cortar o cabelo. Algumas entram em pânico e não há o que as sossegue.
A história acima revela um dos motivos do medo: a ideia de que algo do corpo será cortado para sempre. A noção de que há perdas que são definitivas e outras não, é ainda muito fluida, quase inatingível. A menininha imaginou, naquele momento, que não  haveria um corte irreparável, mas apenas um ensaio. Acreditava que, numa mágica, imediatamente o cabelo voltaria a ficar como antes.
Tornar tudo mais próximo da criança pode ajudá-la. Procurar um profissional conhecido, talvez um familiar, caso a criança esteja muito estressada. Apresentar-lhe os instrumentos que vão ser usados também é uma boa providencia...
Mas na medida do possível, é bom que sua recusa seja respeitada. Lembremos que a estética deve estar ao lado do bem estar, promovendo o conforto interno.

Marcia Arantes e Helena Grinover

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terça-feira, 18 de junho de 2013

Converse com a menina

























Suzana tem apenas oito anos de idade, mas todos os dias, antes de sair para a escola, fica um bom tempo na frente do espelho se arrumando, fazendo penteados... Às vezes se desespera e chora irritada por não chegar a um resultado que lhe agrade. A mãe da pequena, tentando ajudá-la, diz que está bonita, que está ótima, mas isso a desespera ainda mais...´Não, você não tá vendo? Desmanchou!´
O encontro de um indivíduo com  a sua  imagem no espelho é satisfatório quando o que vê coincide com o que ele deseja ser ou, dizendo de outra maneira, o que é visto é acompanhado  de um sentimento  de amor por si mesmo.
Entretanto, esse amor diante da imagem precisa ser sustentado por um conjunto de outros elementos que valorizam o sujeito, dão a ele um recheio de boas noções a seu respeito.
A preocupação das meninas com a aparência, reflete uma enorme exigência por corresponder a um ideal de imagem insistentemente exposto nos meios de comunicação, mas nem sempre ele está bem ancorado na opinião que elas têm de si mesmas. 
Dizer à Suzana que está bonita no momento em que ela não  se vê assim, não a ajuda. O que poderia lhe facilitar a vida seria encontrar no seu ambiente  a confirmação do seu valor como pessoa cuja existência é importante: valor  de ser filha, neta, irmã, herdeira de uma história, de uma cultura. Na escola precisaria ser reconhecida, tratada como aluna querida por aqueles que compartilham de sua presença no trabalho e no estudo.
Se esse reconhecimento não estiver suficientemente firme, não adianta procurá-lo apenas no cristal. Lá a visão poderá se desmanchar...




terça-feira, 11 de junho de 2013

Roubo na infância



























A mãe de Aninha está preocupada: já é a segunda ou terceira vez que encontra objetos na mochila da menina que não lhe pertencem. Pergunta de quem são e a garota lhe dá respostas difusas e contraditórias: 'Não sei'. ' É da fulana, ela me deu'. 'É meu!'... A mãe, duvidando da filha e sem saber o que fazer, começa a discursar sobre a impropriedade de pegar o que não lhe pertence, como é feio fazer isso, não devemos desejar o que é dos outros...
Aos seis ou sete anos, aproximadamente a idade de Aninha, a criança já tem noção clara do que lhe pertence ou não, portanto sua mãe tem motivo para se inquietar.
Os pais podem ficar espantados ao verem seus filhos agirem de maneira totalmente contrária aos princípios que prezam e procuram transmitir a eles. Isso fere a imagem 'imaculada' que gostam de manter a respeito dos rebentos e pode tomar proporções desmesuradas nos pensamentos sobre o que poderá vir a acontecer no futuro: 'Meu filho vai ser um ladrão?'.
Ficam desejando que os filhos não tivessem sentimentos e vontades que possam causar dificuldades na vida social e tentam influenciá-los por ai: 'Não devemos querer as coisas dos outros!'
Vontades, sentimentos, desejos, não podem ser banidos do nosso mundo mental, fazem parte do psiquismo normal do ser humano. O que precisamos é aprender a barrar as ações movidas por eles. 'Desejo o estojo da minha colega, mas não posso pegá-lo'.
Às vezes, os discursos mais atrapalham do que ajudam... No exemplo, a fala da mãe poderia se resumir a: 'Você está proibida de pegar o que não é seu. Vamos devolver!'

Marcia Arantes e Helena Grinover
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quarta-feira, 5 de junho de 2013

Ciúmes

Carla tem três anos de idade. Acaba de chegar em casa seu irmãozinho, cujo nascimento está sendo  muito festejado pela família. Os adultos conversam na sala enquanto a garotinha e o bebê estão no quarto. A mãe, atraída pelo silêncio dos filhos, vai vê-los e encontra o pequenino totalmente coberto por duas mantas de lã. Ela se assusta: `O que você fez Carla? Quer esconder seu irmão? Está proibida de fazer isso novamente, entendeu?!´
Essa reação da mãe, aflita com  o que imaginou ao ver a cena, nos parece interessante.
Sem criticar a filha por ter o desejo de `sumir com o nenê´, o que apenas a faria se sentir culpada, coibiu fortemente sua ação.
É inevitável que surjam tendencias hostis entre os irmãos em diferentes momentos da vida, e ter conhecimento delas torna a criança mais apta a exercer controle sobre sua impulsividade. É sempre mais fácil lutar contra algo conhecido do que contra o que se desconhece.
Essa história serve para pensarmos em inúmeras situações em que os adultos julgam e criticam as crianças por seus desejos e sentimentos, mas descuidam do exercício da interdição: marcar com seriedade os limites que jamais devem ser ultrapassados, ou seja, os desejos que não podem ser realizados. Elas necessitam desta colocação firme para ter maior segurança emocional e física, pois ambas caminham juntas.
A melhor proteção é a que está instalada internamente, na consciência de cada um, e que se desenvolve desde cedo.

Helena Grinover e Marcia Arantes
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terça-feira, 21 de maio de 2013

Papai de quem?



















'Minha filha de quase 3 anos, há mais ou menos 6 meses,  começou a chamar o pai pelo seu nome ao invés de "papai". Por outro lado, quando estamos conversando entre nós, mãe e filha,  ela se refere a ele como "papai". O Papai dela é presente e acredito ter um relacionamento saudável com a filha. De onde será que vem essa preferência de chamá-lo pelo nome? ' Esta interessante pergunta nos é formulada pela leitora que relata a situação. 
Muitas crianças, nesse momento da vida, têm o mesmo comportamento da menininha da história: referem-se às figuras dos pais das duas formas, mostrando saber que ambas são pertinentes para nomeá-los. Ocorre-nos que, quando chamam o pai ou a mãe usando seus nomes próprios, utilizam as mesmas  denominações que o casal ao chamar um ao outro. Quando fazem isso os pequenos aparentemente deixam a posição de filhos para se colocarem nos lugares dos adultos, imitando a linguagem deles.
Trata-se do momento em que a criança se vislumbra já crescida, imagina-se na geração dos pais e exercita essa antecipação de muitas maneiras: encenando, imitando, usando as roupas, repetindo palavras...Esse faz de conta, esse jogo, não está necessariamente relacionado à ausência de um dos genitores, mas sim ao desejo de crescer. Entretanto, tudo ainda é para ela um grande mistério, não consegue entender bem o que determina a diferença do relacionamento entre os três. Haverá, portanto, uma grande investigação, onde várias hipóteses serão levantadas.
Ao longo do processo, necessário para a constituição de sua personalidade, ela sairá desse engodo em que se imagina participando do triângulo na mesma posição que os pais. Na adolescência, o caminho deverá culminar com a possibilidade  de compor outro casal...
Para criancinhas que estão nesse momento de 'pesquisa', brincadeiras sobre as várias posições na família podem ser interessantes. O papai   não é papai da mamãe; os avós sim, são  os pais do papai e da mamãe, mas o pai da mamãe, não é o pai do papai... 

Marcia Arantes e Helena Grinover
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