'Minha filha de quase 3 anos, há mais ou menos 6 meses, começou a chamar o pai pelo seu nome ao invés de "papai". Por outro lado, quando estamos conversando entre nós, mãe e filha, ela se refere a ele como "papai". O Papai dela é presente e acredito ter um relacionamento saudável com a filha. De onde será que vem essa preferência de chamá-lo pelo nome? ' Esta interessante pergunta nos é formulada pela leitora que relata a situação.
Muitas crianças, nesse momento da vida, têm o mesmo comportamento da menininha da história: referem-se às figuras dos pais das duas formas, mostrando saber que ambas são pertinentes para nomeá-los. Ocorre-nos que, quando chamam o pai ou a mãe usando seus nomes próprios, utilizam as mesmas denominações que o casal ao chamar um ao outro. Quando fazem isso os pequenos aparentemente deixam a posição de filhos para se colocarem nos lugares dos adultos, imitando a linguagem deles.
Trata-se do momento em que a criança se vislumbra já crescida, imagina-se na geração dos pais e exercita essa antecipação de muitas maneiras: encenando, imitando, usando as roupas, repetindo palavras...Esse faz de conta, esse jogo, não está necessariamente relacionado à ausência de um dos genitores, mas sim ao desejo de crescer. Entretanto, tudo ainda é para ela um grande mistério, não consegue entender bem o que determina a diferença do relacionamento entre os três. Haverá, portanto, uma grande investigação, onde várias hipóteses serão levantadas.
Ao longo do processo, necessário para a constituição de sua personalidade, ela sairá desse engodo em que se imagina participando do triângulo na mesma posição que os pais. Na adolescência, o caminho deverá culminar com a possibilidade de compor outro casal...
Para criancinhas que estão nesse momento de 'pesquisa', brincadeiras sobre as várias posições na família podem ser interessantes. O papai não é papai da mamãe; os avós sim, são os pais do papai e da mamãe, mas o pai da mamãe, não é o pai do papai...
Marcia Arantes e Helena Grinover
http://vivazpsicologia.blogspot.com.br/p/servicos_22.html
Marcia Arantes e Helena Grinover
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Sim, agora entendo; o desejo de crescer e ainda nao saber qual o seu papel ou lugar que ocupa na familia. Vou sim mostrar fotos dos Pais dos Pais e brincar de casinha com ela. Me parece que a infancia tambem se constitui em uma jornada pela busca da identidade! E desde logo tao cedo...
ResponderExcluirMuito obrigada, Marcia e Helena. Gostei muito.
Um abraco.
Exato, o espaço da brincadeira é que deve ser usado para se colocar no lugar dos adultos e constituir identificações. O que é muito diferente de fazer o papel deles na vida real, exercendo domínios que não são da criança. Isso sim a confunde mais além do que já é parte do processo de desenvolvimento.
ExcluirObrigada por fazer essa importante distinção.
abraço,
Helena
Hoje, a mesma pequena de quase 3 anos e que ainda chama o pai pelo nome, me chamou a atencao com algumas falas. Primeiro ela disse ao pai que estava com dor nas costas, quando na verdade a mae, no caso eu, e quem tem tido dores nas costas. Um pouco mais tarde, apos brincarmos e eu ter dito a ela o quanto a amava, ela me perguntou: "Mae, voce quer ser eu?" A pergunta me pegou de surpresa... eu respondi: "Nao, eu quero ser eu. E voce? Voce quer ser eu?" ela disse: "Nao".
ResponderExcluirCaras Marcia e Helena, por favor se possivel um esclarecimento, essa confusao de identidades deve ser cuidada?
Cara mamãe,se houver essa confusão, ela é parte do caminho da constituição do sujeito, portanto, vamos aguardar e deixar a garotinha continuar seu percurso...Acho que seria interessante, por enquanto, não solicitar que ela já saiba dizer claramente quem quer ser quem.
ResponderExcluirAgradeço a oportunidade que nos oferece, escreva sempre.
Helena