terça-feira, 9 de agosto de 2011

Agenda cheia




















Dora, garota de nove anos, deixa uma mensagem no celular de sua mãe, que está no trabalho: "mãe, liga pra cá, eu não tenho nada pra fazer...beijo". 
A mãe relata que nessa manhã a filha teria aula de ballet, mas na semana anterior haviam desistido de continuar com as aulas porque a garota reclamava há meses dizendo que estava "chato". 
Não sabemos ao que a menina se referia quando expressava essa reclamação em relação à dança, mas sabemos que, quando se deparou com a ausência de uma atividade programada, sentiu-se perdida, sem conseguir definir o que tinha vontade de fazer. Ela sabia o que não queria, mas não conseguia saber o que queria.
As crianças, quando os recursos financeiros dos pais permitem, estão com as agendas cheias: música, esportes, língua estrangeira, reforço escolar... às vezes numa quantidade tão excessiva, que gera desatenção, falta de interesse, mau desempenho. Mesmo nos recreios das escolas, festas, hotéis, clubes, essas crianças têm atualmente um grande período com monitores, onde as brincadeiras são vigiadas e conduzidas. Essas atividades, apesar de por vezes serem atraentes, não propiciam algo importante. 
É um enorme aprendizado administrar o próprio tempo, decidir o que fazer, tomar as iniciativas. Quando ela 'não tem nada para fazer', ou melhor, quando nenhum adulto está propondo nada, pode ser o grande momento de inventar, descobrir, criar cenários imaginários, andar no próprio ritmo, encontrar o jeito pessoal. São vivências que a preparam para desempenhar melhor as tarefas dirigidas que terá que enfrentar.
Como seria bom se, diante desse recado no celular, a mamãe da Dora não se apressasse em propor coisas, como é, geralmente, a tendência dos pais.

Helena Grinover e Marcia Arantes

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