domingo, 16 de outubro de 2011

Perguntas difíceis
















'Mamãe, Deus existe?' 'O que você acha, filha?' 'Acho que não, porque quando viajei de avião não vi nada lá no céu, só nuvens. E todo mundo diz que ele fala com a gente, mas eu também nunca escutei.' A bisavó, que é bastante religiosa e presenciava esse diálogo da menininha de 6 anos com sua mãe, acrescentou:'Mas Deus fala ao nosso coração'. 'Bisa, coração não é ouvido, né?!' Nesse momento, chegaram ao local de destino e, para alívio da mãe, a conversa se dispersou.
A criança faz muitas perguntas difíceis. Porque o bichinho morre, para onde ele vai depois, os pais vão morrer, ela vai morrer?...Observa tudo: quem beija na boca, quem fica pelado na frente de quem... 
Nessa idade, ela já tem recursos de pensamento que permitem considerações, como as da conversa acima. Está separando a fantasia da realidade, buscando o que pode ser comprovado, vai se tornando um verdadeiro cientista! Ela sabe, por exemplo, que o bebê antes de nascer está na barriga da mãe, pode ter ouvido estórias sobre a sementinha que o papai fornece, mas por mais que se esforce, ainda não consegue entender o que leva o papai e a mamãe a desejar um bebê, ou o que há de prazer nisso. Só mais tarde, com as mudanças corporais da adolescência, poderá alcançar outras formulações. Entretanto, cria hipóteses, desenvolve 'teorias', exercita o desejo de conhecer.
As perguntas, embaraçosas e incômodas, colocam os adultos diante de suas próprias incertezas. Esses pequenos pesquisadores percebem que os mais velhos também não estão tão seguros de suas "verdades", mas precisam do seu apoio e atenção para continuar as pesquisas. O processo da aprendizagem brota dessa curiosidade insistente e enérgica das crianças.
Às vezes, respostas conclusivas ou muito explicativas atrapalham o caminho, bloqueiam o processo no lugar de estimulá-lo, e podem até ser perniciosas se trouxerem conteúdos fora das possibilidades de conhecimento da criança naquele momento.

Marcia Arantes e Helena Grinover
Caso seu filho apresente uma dificuldade persistente, marque um horário para conversar.















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