sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Que rede é essa?

























'Meu filho usa o computador para se relacionar, mas a nossa empregada tem a tarefa de vigiar o tempo todo; à noite, ela nos conta o que se passou'. Esse é o relato de um pai, quando entrevistado a respeito do uso da internet por crianças.
Para cadastrar-se num dos sites de relacionamento mais conhecidos, a pessoa deve informar sua idade. O cadastramento de menores de treze anos não é aceito e o próprio site recomenda seu uso para maiores de 18 anos. Entretanto, o que vem ocorrendo não é nada recomendável. Crianças, por meio do fornecimento de informações falsas ou de adultos que 'emprestam' suas identidades, estão frequentando cada vez mais cedo esse ambiente virtual. Os pais, naturalmente apavorados com as possibilidades de violências reais e virtuais, exercem controles também pouco recomendáveis. Vigiar o tempo todo termina por cercear liberdades necessárias e gerar insegurança nos pequenos.
As consequências podem ser consideráveis para a criança que sabe das restrições, e vê os pais tão intranquilos com o que estão fazendo. Talvez o mais importante a ser dito, é que os pais tornam-se cúmplices da 'mentira' dos filhos em relação a idade, agindo de forma contrária ao que exigem deles. Isso introduz uma fratura na noção de limite , afrouxa a confiança nos adultos, o que abala a construção dos valores que norteiam a vida. Os consultórios psicológicos estão cheios de crianças e adolescentes com os mais variados quadros de sofrimento psíquico, que tem por base essa fratura.
'Todos os meus amigos têm': essa é a frase que os pequenos repetem para convencer os pais que tentam resistir à pressão para que sejamos todos iguais, usemos a mesma roupa 'fashion', conheçamos os mesmos lugares 'in', tenhamos os mesmos objetos 'High-Tech'. É bom lembrar que a própria rede que insere, fornecendo recursos que enriquecem a vida social, é também, por outro lado, a que captura. Falta espaço para a diferença, para a possibilidade de pensar com os próprios critérios.
Será excelente que os pais possam se sustentar naquilo em que acreditam. Quem dá suporte aos que querem fazer diferente? Seria esse um trabalho que as escolas poderiam assumir com mais consistência?

 Helena Grinover e Marcia Arantes
Caso seu filho apresente um sofrimento persistente, marque um horário para conversar.

http://vivazpsicologia.blogspot.com.br/p/servicos_22.html

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A outra casa do meu filho


































A mulher diz ao ex-marido, com palavras cuidadosas, esforçando-se para manter o clima amigável: ‘Não quero te preocupar, mas tenho notado que toda vez que ele,  filho de ambos, volta da sua casa , está mais agressivo, fala palavras que não costuma. Você notou algo? Claro, eu sei que você é super cuidadoso, mas... será que está acontecendo alguma coisa?’ O pai responde já se defendendo e iniciam uma troca de opiniões. Nota-se que a interrogação procura esconder a agressão e a defesa busca encobrir a indignação... Ao observador, a tensão é visível, uma bomba prestes a explodir! Uma outra mãe divorciada diz: ‘Minha filha fica chorosa quando vai para a casa do pai. Acho que ela não se sente bem tratada’.
Quando pais separados compartilham a guarda do filho é frequente a desconfiança. Como estará sendo tratado esse ser tão especial? É difícil deixá-lo, por vezes ainda pequeno, ir para um lugar onde não é possível interferir no que acontece. Terá que conviver com outra ‘mãe’ ou outro ‘pai’, outros irmãos, outras regras. As mães, sobretudo, se atormentam pelo fato de que, nesse novo contexto, o filho não tem o lugar privilegiado que ocupa junto a elas.
É comum brotarem ciúmes e competição e, dependendo de como se deu a separação, restar grande hostilidade entre os pais. As dificuldades dos filhos, se vistas a partir desses sentimentos, são facilmente atribuídas ao ‘outro’. A nova mulher do ex-marido é a bruxa da história, o novo marido da ex-mulher é desregrado, agressivo ou indiferente...
É interessante que a criança possa construir vínculos próprios com os novos familiares sem ter que carregar o peso das experiências anteriores dos pais. Estes, por sua vez, só podem identificar situações que necessitem de intervenção, se puderem enxergar o filho como indivíduo destacado. 
A desconfiança entre os adultos deixa os pequenos com a tarefa de se proteger, pois afinal estão entregues aos 'maus'. Em decorrência, pode também acontecer que a criança passe a dar palpites e tecer julgamentos sobre a atitude dos pais, criticando-os e promovendo intrigas. Deixará assim de ocupar o lugar que lhe cabe que é o de ser cuidada e não o de cuidar.

Marcia Arantes e Helena Grinover
Caso perceba um sofrimento persistente em seu filho, marque um horário para conversar
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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Pequenos grandes consumidores

A repórter entrevista uma senhora que foi com a filha à papelaria para comprar o material escolar. "Não venho mais com ela", diz a mãe exausta. Uma outra mãe revela sua decisão: "Não vou mais com as crianças ao supermercado".
O marketing é cada vez mais dirigido a esses pequenos que absorvem rapidamente as mensagens e passam a solicitar dos adultos o que lhes é bombardeado pelos meios de comunicação. Até bancos fazem publicidade com bichinhos barrigudinhos e fofinhos. Frequentemente as crianças são mais bem informadas sobre os recentes lançamentos anunciados na televisão ou na internet do que seus pais.
Elas pedem e querem escolher quase tudo que a família consome, desde roupas, alimentos, filmes, carros, restaurante, viagem, até material de limpeza! O que dirá então na hora de escolher os objetos usados na escola... Há sempre um 'must' do momento. Lamentavelmente, a competição entre colegas reproduz os desejos mercadológicos baseada na seguinte 'verdade': é melhor quem possui o melhor!
Os adultos ficam cansados e tornam-se os 'vilões' quando procuram não ceder. Políticas públicas deveriam auxiliar essa tarefa limitando as investidas do mercado, mas ainda temos muito a caminhar para que isso aconteça. Como explicar para essas cabecinhas imaturas que elas estão sendo manipuladas? Para elas não vale analisar outros aspectos como equilíbrio financeiro, preservação ambiental, desperdício, propaganda enganosa.
Nesse momento de compras de material escolar, pais, professores e escolas têm uma boa oportunidade para socorrer as crianças e tirá-las desse lugar de porta-vozes da sociedade de consumo, a Grande Ditadora de desejos. É produtivo para a criança ser valorizada pelo que ela é para seu grupo social, por sua maneira de participar e contribuir, ajudando-a a retirar o foco do que ela tem, que apenas estimula sua dependência.
Os educadores podem e devem lutar com mais vigor para combater o 'possua para ser feliz' que o marketing alardeia!


Helena Grinover e Marcia Arantes
Caso queira, venha  conversar mais sobre o assunto.
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