segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A outra casa do meu filho


































A mulher diz ao ex-marido, com palavras cuidadosas, esforçando-se para manter o clima amigável: ‘Não quero te preocupar, mas tenho notado que toda vez que ele,  filho de ambos, volta da sua casa , está mais agressivo, fala palavras que não costuma. Você notou algo? Claro, eu sei que você é super cuidadoso, mas... será que está acontecendo alguma coisa?’ O pai responde já se defendendo e iniciam uma troca de opiniões. Nota-se que a interrogação procura esconder a agressão e a defesa busca encobrir a indignação... Ao observador, a tensão é visível, uma bomba prestes a explodir! Uma outra mãe divorciada diz: ‘Minha filha fica chorosa quando vai para a casa do pai. Acho que ela não se sente bem tratada’.
Quando pais separados compartilham a guarda do filho é frequente a desconfiança. Como estará sendo tratado esse ser tão especial? É difícil deixá-lo, por vezes ainda pequeno, ir para um lugar onde não é possível interferir no que acontece. Terá que conviver com outra ‘mãe’ ou outro ‘pai’, outros irmãos, outras regras. As mães, sobretudo, se atormentam pelo fato de que, nesse novo contexto, o filho não tem o lugar privilegiado que ocupa junto a elas.
É comum brotarem ciúmes e competição e, dependendo de como se deu a separação, restar grande hostilidade entre os pais. As dificuldades dos filhos, se vistas a partir desses sentimentos, são facilmente atribuídas ao ‘outro’. A nova mulher do ex-marido é a bruxa da história, o novo marido da ex-mulher é desregrado, agressivo ou indiferente...
É interessante que a criança possa construir vínculos próprios com os novos familiares sem ter que carregar o peso das experiências anteriores dos pais. Estes, por sua vez, só podem identificar situações que necessitem de intervenção, se puderem enxergar o filho como indivíduo destacado. 
A desconfiança entre os adultos deixa os pequenos com a tarefa de se proteger, pois afinal estão entregues aos 'maus'. Em decorrência, pode também acontecer que a criança passe a dar palpites e tecer julgamentos sobre a atitude dos pais, criticando-os e promovendo intrigas. Deixará assim de ocupar o lugar que lhe cabe que é o de ser cuidada e não o de cuidar.

Marcia Arantes e Helena Grinover
Caso perceba um sofrimento persistente em seu filho, marque um horário para conversar
http://vivazpsicologia.blogspot.com.br/p/servicos_22.html

Um comentário:

  1. Quando os pais se separam, principalmente, quando eles são jovens, ficam muitas mágoas, ressentimentos, quando não ódio, rancor. Por mais nefasto que tenha sido o comportamento ou ação do outro , o que fica difícil, para um ou outro entenderem , que para os filhos é da maior importância terem pai E mãe. Um ou outro podem não acompanhar o fato do filho querer o contato com alguém que se comportou tão mal, que foi francamente desonesto, ou desleal. Ele conseguem avaliar isso, mas não dá para desconsiderar que trata-se de pai ou mãe. "Eu que fiquei do lado, que dei de comer, vestir, que levei daqui para lá todo tempo, que trabalhei e paguei tudo, como é possível que ele ainda queira ter contato com o outro?" .A vida de fato é injusta, e os filhos eventualmente mais ainda. Mas filho quer ter pai e mãe. O pior, é que eles "entendem", "perdoam", "relevam" aquele que é considerado como um desclassificado pelo outro. É de fato duro, mas os humanos gostam de ter pai e mãe. Provavelmente quando pai ou mãe são violentos, ou pedófilos, de fato a aproximação pode ficar inviável, mas fora essas situações, os filhos não veem razão para perder contato com um dos pais. Eva

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