terça-feira, 13 de novembro de 2012

Quem é mais sabido?


















Era uma vez... dois irmãos, o André e o Tiago. Eles brincavam e brigavam juntos, como todos os irmãos. Ocorre que o André havia nascido três anos antes do Tiago. Quando ele estava aprendendo a ler, o Tiago mal rabiscava o papel. Quando um ainda usava fraldas, o outro se orgulhava de ir ao banheiro sozinho; quando um tinha medo do escuro, o outro já 'tirava de letra' dormir com a luz apagada. O André se vangloriava: 'eu já sei, o Tiago não sabe, né mãe?'. O Tiago, por sua vez, dizia: 'eu não sei desenhar, o André sabe!'
 Durante o período do desenvolvimento, em que as mudanças ocorrem rapidamente, André estará sempre à frente em certas conquistas. O irmão mais novo o olhará com admiração, desejará imitá-lo, o tomará como modelo. Os pais, ao elogiarem e estimularem os avanços do primeiro filho, colaboram para isso.
É de se esperar que o caçula sinta-se frustrado. Alguns desses desempenhos estão realmente além de suas possibilidades e ele o percebe com clareza. O primogênito, por outro lado, também terá que lidar com sentimentos desagradáveis tais como: a cobrança de responsabilidade, a expectativa de que seja o 'correto', a culpa por se sobrepujar ao irmão...
No entanto, o que ambos não conseguem perceber, é que isso se deve a uma diferença de idade,  que se diluirá com o tempo, e não estabelece as qualidades de cada um . É interessante que professores e familiares possam voltar os olhos para crianças como André e Tiago, que mantém insistentemente a  ideia de haver um mais sabido. O menor pode estar com medo de se arriscar,  de fracassar, então se poupa e se conforma com o lugar de menos sabido. O mais velho, não tão confiante quanto quer aparentar, pode estar precisando se reassegurar de suas capacidades e devido a isso usa sempre o mais novo como elemento de comparação.
Pais e educadores ajudam muito quando estimulam as crianças a não se fixarem nesse conceito sobre si mesma. Os mais velhos não são sempre os mais sabidos, nem os mais novos os que invariavelmente 'não conseguem'.

Marcia Arantes e Helena Grinover


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