quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Não são todos amiguinhos



















No restaurante, está um menino de três ou quatro anos, quando entra um casal desconhecido acompanhado de outro garotinho mais novo. Este se aproxima do maior, o agarra, apoia a cabecinha no seu peito e fica ali, parado. A mãe do pequenino com a voz um tanto forçada diz: 'você está abraçando o amiguinho!' O mais velho, visivelmente constrangido, meio assustado, fica paralisado e sem saber como sair do 'abraço'. Ele olha para a mãe do menor, mas não recebe ajuda. Finalmente se solta, e aflito corre a se enfiar entre as pernas da sua própria mãe.
Na infância, esses comportamentos aparecem nua e cruamente, pois as crianças, especialmente as pequeninas, ainda não sabem como controlar seus ímpetos. Entretanto, a atitude de pais e educadores, que procura encobrir a situação dizendo que são impulsos amorosos, confunde e não ajuda a criança a adquirir conhecimento de si mesma e dos outros. Para constituir sua personalidade e tornar-se um ser social, ela precisa saber reconhecer quando seu desejo não é bem recebido, e aprender a respeitar a recusa do outro.
O hábito de fazer as crianças chamarem todas as outras de 'amiguinhos', apaga as preferências, misturando os sentimentos de amor com o coleguismo ou relacionamentos de outra qualidade.
Neste início de semestre escolar é bom lembrar que amigos são escolhidos em algum momento, colegas não. Uma excelente diretora de Centro de Educação Infantil diz o seguinte: 'todos devem respeitar seus colegas, mas nem todos serão amigos'.
A mãe do pequeno menino no restaurante o ajudaria a perceber melhor a si e ao outro e, talvez, iniciar um relacionamento amigável, se tivesse lhe dito algo como: ' solte, ele não está gostando.'

Helena Grinover e Marcia Arantes
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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Qual é o valor da paternidade?


























Na última semana, uma notícia publicada na primeira página dos jornais nos surpreendeu. O STJ, em decisão inédita, reconheceu o direito de uma filha ser indenizada pelo pai que a abandonou na infância e adolescência. Não nos cabe considerar os méritos legais, ou ponderar sobre a estranheza de ver 'abandono afetivo' ser traduzido em uma quantidade de dinheiro. O que nos interessa é refletir sobre os efeitos desse julgamento.
Se os juízes, amparados na lei, decidem que um filho deve ser recompensado pelo prejuízo de ter um pai ausente, a presença paterna fica valorizada.   Desta vez ganhou inclusive destaque como um assunto de interesse público.
No caso, o pai teria alegado que a atitude agressiva da mãe em relação a ele motivou o afastamento.  De fato, muitas vezes os pais encontram resistência por parte das mães quando desejam interferir na educação  dos filhos, nos limites, nos hábitos, nos relacionamentos, nos horários... Há os que insistem e participam, outros cedem e entregam a tarefa às mães, o que os afasta do contato com as crianças. Isso termina  por privá-las da sua contribuição  que poderia oferecer outro modelo de  vida além do materno.  
Na nossa cultura, as mulheres são levadas a uma posição social em que os filhos se tornam o objeto maior de realização, e os homens, frequentemente, são colocados como coadjuvantes, ou são reduzidos apenas a mantenedores econômicos.
Entretanto, sabemos que dois adultos fortalecidos em seus papéis diferentes, de pai e de mãe,  são uma referência importante para a estruturação psíquica dos pequenos. Portanto, mesmo que tenham que enfrentar  resistência por parte das mães, os pais devem  ocupar o seu lugar.
A responsabilidade paterna já era reconhecida na Constituição brasileira como um direito das crianças. Agora vemos esse reconhecimento garantido por um juíz que inclui no processo considerações sobre a  presença do pai para além das obrigações econômicas.
 Bom seria que essa decisão soasse aos ouvidos  de pais, mães e educadores  como alerta para iluminar o significado, por vezes meio apagado,  da figura paterna,  que é um dos pilares da constituição psíquica infantil.

Marcia Arantes e Helena Grinover

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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O bebê já vai para a escola!



Daqui a alguns dias, muitas mamães e papais de todo Brasil  viverão uma experiência marcante: seus filhotes irão para a escola pela primeira vez! Querem ter confiança de que seu filho será muito bem cuidado, de preferência... como se estivesse em casa! É esse o grande desafio que enfrentarão, pois escola é diferente de casa!!!
A entrada na escola inaugura a vida no espaço público, quer dizer, onde a criança é uma entre outras em condições de igualdade. Ela terá que seguir regras comuns a essa coletividade e aprender a conviver com seus pares para que possa pertencer ao grupo social. As crianças variam na forma de reagir a essa nova proposta, mas são esperados choros, resistência a ficar sem a presença da mãe, inibições, alterações no comportamento em casa.  Será muito bom que a mãe aceite com  tranquilidade essas resistências.
Numa boa escola, a adaptação será feita da forma mais suave possível, respeitando e mantendo, a princípio, aspectos da rotina da criança. Aos poucos, ela fará a passagem dos sentimentos de segurança emocional, tranquilidade e conforto que experimenta, quando está no ambiente caseiro,  para a escola e para as pessoas que lá a acolhem. Levar para o  novo espaço objetos aos quais é apegada, como bichinhos, travesseiro, a ajudará a fazer essa mudança.
É importante que a mãe acredite na competência da pessoa para a qual está entregando seu filhote. O olhar confiante dos adultos aos quais a criança está apegada, será a ponte que permitirá que essa travessia se concretize.

Marcia Arantes e Helena Grinover

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