terça-feira, 28 de junho de 2011

Vítimas da publicidade


A menininha coloca na cabeça a coroa da princesa, a peruca com longas tranças e pronto: virou princesa. O menininho veste a roupa do homem aranha e se torna super herói. Uma insígnia, um emblema, tem o poder de transformar suas identidades. Olham-se no espelho e sua imagem reunida a esses elementos dá a ilusão de que adquiriram capacidades, força, transformaram-se .
Um dos objetivos da publicidade é criar essa ilusão de que ter é igual a ser e nas crianças, especialmente, o efeito é certeiro - elas ficam aprisionadas pela imagem e passam a desejar o produto imediatamente, sem crítica.
O adulto também cai no engôdo de acreditar que ao possuir determinados objetos torna-se outra pessoa. Entretanto, em crianças o efeito é mais preocupante. Quando ficam coladas à necessidade de posse de determinados produtos, diminuem a capacidade de usar o "faz de conta" para se transformar, empobrecem a construção da imagem pessoal e de suas potencialidades. Além disso, podem passar a acreditar que para serem valorizadas, amadas, admiradas, devem ser iguais a "maravilhosa"criança da publicidade e para tal, devem possuir os mesmos brinquedos que ela.
Numa sociedade que estimula ao extremo a posse de bens, que invade diariamente os cidadãos com mensagens enganosas e atraentes, torna-se mais penosa a tarefa de discriminar entre o que temos e o que somos.
É função primordial da educação, portanto dos pais, ajudar esses seres em formação a prosseguir nessa discriminação: brincar de mamãe e filhinha independe de possuir a boneca 'x'. 
Os pais perceberão que sua excelência não está vinculada a fornecer produtos aos filhos!

Marcia Arantes e Helena Grinover
Caso queira aprofundar o assunto, marque um horário para conversar.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Consumimos crianças?



















O artigo de Ruy Castro na Folha de São Paulo, dia 17/06/2011, 'Guerra ao Gugu-dadá', aborda a questão das crianças que são levadas a encarar, cada vez mais cedo, o aprendizado de idiomas, o uso da internet, os regimes alimentares, o consumo de produtos para adultos, etc.
Podemos acrescentar a essa lista as festas infantis com shows e temas de adolescentes, aniversários em spas com tratamentos de beleza para meninas de nove, dez anos, e outras precocidades que chegam a ser constrangedoras para quem observa. Vocês ja tiveram a oportunidade de ver crianças dançando funk, como foi mostrado no programa 'A Liga' (TV Bandeirantes) há algumas semanas? Fico imaginando o que pensarão essas crianças sobre seus pais, que foram coniventes, ao virem o vídeo dessas festas daqui a alguns anos, quando puderem entender o significado das coreografias...
Os filhos são herdeiros dos desejos dos pais, é importante e inevitável que seja assim. 'Meu filho terá o que me faltou, o que eu não tenho, será meu seguidor, terá o melhor que eu puder dar...' Não é fácil por limites nisso tudo.
Mas é possível fazer a separação entre o que são os desejos dos pais de popularidade, de sucesso profissional, de beleza e o que são as necessidades das suas crianças. Às vezes, os adultos submetem as crianças a um stress desnecessário e com sérias consequências, por causa da insatisfação com as próprias vidas.
Será mais fácil enfrentar a imensa pressão do marketing e da sociedade, se tiverem a convicção de que sua função é proteger os filhos da violenta submissão a situações que eles não têm, ainda, capacidade para compreender.

Sugerimos aos nossos leitores as postagens: Brinquedos que consomem, de 06/06 e Infância Violentada? de 16/05.

Marcia Arantes e Helena Grinover
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segunda-feira, 6 de junho de 2011

Estranhamento


















O bebê que era tão amigável, simpático, sorria para todos, um belo dia começa a 'estranhar'. Já não aceita o colo de qualquer um. A criança, que era tão segura de si, por volta dos dois ou três anos, passa a ter medo de pedintes, de palhaço, do médico, de papai noel...
Naturalmente, os pais se preocupam e buscam as causas. Será que alguém a assustou ou ela viu algo relacionado a essas figuras? Entretanto, pode não ter acontecido nada especialmente assustador na realidade.
Os medos surgem como consequência do crescimento, com mudanças no psiquismo que transformam as vivências. Uma delas é que criança passa a perceber melhor a diferença entre ela e os outros, 'os estranhos'. Assim, o que antes não a assustava agora é visto com "outros olhos" e passa a ser temível!
Por vezes, o medo escorrega para fatos banais no dia a dia. Uma pessoa com a cor da pele diferente de seus familiares, um traço que se sobressai muito, tal como um tipo de cabelo, uma característica física evidente, podem causar horror. A criança também pode passar a ficar constrangida em situações sociais e inesperadamente reagir rejeitando as pessoas.
Para continuar crescendo ela precisará ter experiências que ampliem suas noções do que é 'familiar' incluindo pouco a pouco mais diferenças.
Bom seria se isso se desse sem exposições forçadas e penosas às figuras amedrontadoras, sem exigir que ela logo entenda, pela explicação lógica, que "não faz sentido ter medo de um amistoso papai noel...." As explicações lógicas têm pouquíssima eficácia na diminuição dos medos.
O adulto pode ajudar afastando momentaneamente a criança da situação que a estressa, e posteriormente acompanhando e facilitando a descoberta de pontos de igualdade dentro das diferenças.

Marcia Arantes e Helena Grinover
Caso seu filho apresente um sofrimento persistente, marque um horário para conversar.