domingo, 10 de julho de 2011

Não dá para dizer não?




















Esta semana fomos chocados pela entrevista de uma mãe londrina conhecida como 'barbie humana' devido a quantidade de cirurgias plásticas que fez, declarando ter dado à filha de 6 anos, um 'voucher-silicone' para realizar um implante nos seios aos 16. Essa mãe declara que a filha implorou pelo presente. Claro, estamos diante de uma exceção, mas bastante útil para refletirmos a respeito de onde nos leva a impossibilidade de dizer 'não'.
O 'não' tem efeito de uma barreira tanto para quem diz, quando para quem escuta. Quando não podemos colocar essa barreira, funcionamos como uma espécie de canal por onde tudo passa: não há limites para a entrada, e nem para a saída. Transformamo-nos num corpo boiando num mar de demandas. No exemplo que citamos, o efeito sobre a filha só o futuro dirá, mas podemos imaginar que será um novo corpo a boiar no reino do vale-tudo, ou terá que fazer um enorme esforço para encontrar algumas âncoras.
A menina declara que está muito feliz com o presente porque terá "peitos lindos como os da mamãe". Por enquanto, o corpo e o sonho de beleza dessa menininha são moldados pelos desejos da mãe. Esta, por estar aprisionada à ilusão de um corpo cada vez mais perfeito, fica impossibilitada de recusar o pedido da filha. No fundo, o que ela não pode é dizer 'não' para si mesma e usa a criança para continuar as suas intervenções plásticas.
O educador deve ser capaz de barrar suas próprias expectativas, reconhecer nesse outro ser necessidades diferentes das suas, para oferecer perspectivas e valores mais amplos, inseridos numa cultura que está acima dos desejos individuais.

Marcia Arantes e Helena Grinover
Caso queira aprofundar o assunto, marque um horário para conversar.








Nenhum comentário:

Postar um comentário