sexta-feira, 25 de novembro de 2011

E se eu não passar?


















Os alunos do último ano do ensino fundamental estão dando uma festa, comemoram conquistas e se despedem! No próximo ano vão todos mudar de escola para cursar o ensino médio. Alguns sentados numa rodinha comentam os exames de seleção que enfrentaram. De repente, um garoto começa a chorar, não conseguiu entrar naquela escola que é a 'melhor' e seu irmão gêmeo sim. Que decepção! Mas, além disso, ele tem a idéia de que o irmão 'tá feito'.

Qual é a melhor escola? Muitos critérios são levantados, desde metodologia de ensino, valores humanos, instalações físicas, até aspectos práticos como distância, preço, vagas. Numa sociedade competitiva como a nossa, é fatal que entrem em jogo critérios como a posição da escola no 'ranking' do ENEM ou as estatísticas que quantificam a porcentagem de aprovados nos vestibulares.

Aparentemente, quem está dentro de uma das primeiras do ranking já é primeiro em alguma coisa. Não é bem assim, uma escola pode ser muito adequada para determinado estilo de aluno e ser inadequada para outro. Os melhores resultados advirão do bom encontro entre aluno e escola, com o reconhecimento feito pela família.

Assim como os concursos que escolhem 'o melhor jogador ou a melhor atriz ' levam a uma ilusão fantasiosa, pois não existe 'o melhor' e sim o primeiro em determinadas seleções, também nos iludimos quando acreditamos na 'melhor escola'. Os vencedores de concursos são talentosos e preparados para alguns aspectos da vida, mas certamente despreparados e mal dotados para outros, do mesmo modo que as escolas!

Quando falamos que alguém é campeão, é o primeiro, esquecemos que somos todos incompletos, 'ninguém tá feito', em idade alguma. Experimentar e assimilar essa 'prova' de não ser aprovado constitui uma das lições para o futuro. O sucesso em qualquer atividade está quase sempre vinculado a não se deixar abater pelos fracassos.

Crianças e adolescentes perdem de vista a perspectiva, sobretudo no momento de vestibulares e seleções, de que a educação formal é um processo, e que há uma diversidade de caminhos possíveis. Passar no exame é um marco importante, sem dúvida, mas não deve ser entendido como a obtenção de um selo de garantia da qualidade. Há mais mistérios sob o céu e a terra...


* Aos interessados pela diversidade na formação escolar, indicamos o excelente artigo de João Batista Araujo de Oliveira, "Dilema no ensino médio", publicado no Jornal Folha de São Paulo em 29/11/11.

Helena Grinover e Marcia Arantes
Caso seu filho apresente uma dificuldade persistente, marque um horário para conversar.
http://vivazpsicologia.blogspot.com.br/p/servicos_22.html


domingo, 20 de novembro de 2011

É hora de comer !


















Observo a cena de longe, sem ouvir as palavras: em uma mesa estão sentados quatro adultos e na cabeceira uma menininha de seus 15 meses. A criança tenta com um garfo pegar algo do prato de seu pai. Ele afasta o prato, tira dela o talher e lhe oferece com as próprias mãos uma colherada; ela vira o rosto. Agora a garota se estica por cima da mesa, pega outro garfo e tenta comer do prato de sua mãe. Novamente não deixam. Já quase deitada sobre a mesa a menininha abocanha um alimento com a mão. Outra vez afastam os pratos e um adulto procura lhe dar comida diretamente na boca. Inútil, ela não quer. Numa pequena distração dos grandes, pega outro garfo, consegue espetar a comida e põe na boca. No mesmo instante a mãe exclama: 'Olha! Não sabia que já conseguia comer com o garfo'.
A garota estava muito interessada em usar o garfo para comer, revelando uma capacidade de independência desconhecida por seus pais.
Os adultos fazem verdadeiros malabarismos para conseguir que os pequenos comam, o que pode despertar neles maior interesse pelas brincadeiras do que pela atividade de se alimentar. Quando o ato de comer ocorre sempre junto com o de brincar, assistir televisão e outras artimanhas, criam-se verdadeiras dependências. Frases do tipo: "ele só come se..." ilustram bem isso. Portanto, nada de brinquedos, livros, musiquinhas que distraiam e façam com que a criança não perceba que está ingerindo. Sentir o alimento na boca, a mastigação, a deglutição, faz com que o ato seja prazeroso em si mesmo. Os recursos adicionais enganam, trazem mais dificuldades do que alívio.
Deixar que os pequenos comecem a comer sozinhos não é nada fácil. Há o receio de que não comam o suficiente, o trabalho de limpar roupas e objetos , o processo é mais lento... Entretanto, desta maneira eles podem constituir o desejo de se alimentar e responsabilizar-se por ele. Podem seguir o próprio ritmo, estabelecer a quantidade, desenvolver um interesse pela atividade motora de apanhar o alimento e levá-lo à boca.
É muito importante apostar na capacidade da criança de gostar do ato de comer. Se, por vezes, ela não se alimenta na quantidade esperada, que isso possa ser aceito como uma alteração que faz parte do processo. As quantidades variam em função da idade e do momento, sem causar abalo na nutrição. O acompanhamento do pediatra ajuda os adultos a terem uma referência para indicar se o desenvolvimento da criança está adequado.
Que tal dar adeus ao famoso aviãozinho ?






sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Essa menininha sabe o que quer!




















Meses de ensaio e preparação - a apresentação de final de ano na escola, como sempre, é um momento especial. Crianças agitadas, pais e professores ansiosos, fantasias, adereços, tudo pronto. Avós e tios avisados, câmeras fotográficas a postos! Na hora 'H' a menininha não quer se apresentar. Esconde-se na saia da mãe, foge, chora .
Frustração geral; frequentemente a sensação é de fracasso para os pais, educadores e, principalmente, para a criança.
Em relação a essas apresentações criou-se uma 'verdade': se a criança está bem do ponto de vista emocional, desempenhará o papel esperado. Será mesmo?
A disposição para se apresentar em público depende de vários fatores que são inacessíveis aos observadores: só a criança tem condições de escolher se quer ou não quer. Não há uma idade adequada para o desejo de participar de competições, acampamentos, etc.
A possibilidade de dizer 'não quero' é preciosa, garante a preservação da integridade interna e portanto deve ser respeitada. É alentador saber que a própria criança é capaz de colocar seu limite. Ao aceitar a recusa os educadores não deveriam ficar decepcionados, mas tranquilos por saber que não estão cometendo uma violência contra os sentimentos infantis.
Às vezes, a quantidade de 'holofotes' torna esses momentos excessivamente especiais e dificulta a vida de todos. Supervalorizar a atitude da criança que se apresenta ou a da que não se apresenta só aumenta esse efeito 'holofote'. Vale lembrar, trata-se 'apenas' de uma apresentação.
Na educação uma das grandes metas é aprender a reconhecer os próprios limites e a dizer 'não' sem precisar atender a todas as expectativas. Os pais de um adolescente certamente se sentirão mais seguros sabendo que o filho tem essa capacidade...
Se os familiares e a escola puderem aceitar com tranquilidade aquela criança que disse 'não", as chances de que ela se apresente na próxima ocasião serão maiores!

Marcia Arantes e Helena Grinover
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sábado, 5 de novembro de 2011

Beleza de trânsito






















Mãe e filha de nove anos estão presas no trânsito, ainda levarão 40 minutos para chegar. De repente a mãe comenta: olha, a placa desse caminhão é FFF! A menina fala três vezes um palavrão que começa com a letra F. A mãe diz: Feio, Feio, Feio... A garota faz outra sequência de três palavras começadas com F.
Passam a brincar com as placas dos outros carros. Cada vez uma delas cria a sequência, as palavras começam a formar sentenças e até rimas. As duas não se dão conta do tempo e chegam ao destino. A menina desce do carro, se despede e diz: pegamos trânsito mas foi bom! A mãe pensa: é verdade...
Em tempos de metrópoles congestionadas, onde os adultos trabalham muito e têm vida corrida, as oportunidades de brincar com as crianças podem ser preciosas. Nesse dia, sem perceber, mãe e filha puderam transformar a situação. O que teria sido um adulto queixoso e uma criança entediada, foi um tempo de diversão criativa. Essa menina foi poupada de ouvir as lamentações adultas, que são sempre muito desanimadoras para os pequenos.
Muito já se falou sobre a diferença entre qualidade e quantidade do tempo que os familiares têm para ficar com as crianças . O tempo é de qualidade quando propicia intimidade, espontaneidade, cria laços de confiança. Nesses momentos se transmitem valores, histórias familiares, confidências ... Às vezes, é suficiente mudar a qualidade e não aumentar a quantidade.
Parece-nos interessante inventar formas de cuidar brincando para aproveitar o tempo. Para cada idade há brincadeiras que podem ser feitas enquanto se toca a vida cotidiana. No exemplo acima, surgiu um jogo em torno do material que estava diponivel nas ruas da cidade, as letras das placas. Este é um aspecto importante a realçar: as crianças gostam de brincadeiras e não necessariamente de brinquedos. Além disso, a mãe não ficou na posição de apenas criticar os palavrões, mas aproveitou a ideia para chamar a atenção sobre "palavras feias".
Aos adultos cabe o desafio de serem criativos, o que também é muito divertido!

Helena Grinover e Marcia Arantes
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