terça-feira, 23 de abril de 2013

Adolescentes assassinos ou assassinados?


























O debate em torno da diminuição da maioridade penal como forma de combater a criminalidade entre os jovens, joga uma cortina de fumaça neste grave problema social.
Há um risco de completo insucesso no combate à violência, caso continuemos a focar sob esse prisma, como propõem as bandeiras ideologizantes de alguns políticos e que tomaram conta dos pensamentos nas ultimas semanas.
Mergulhadas na questão da punição dos jovens como adultos, as pessoas desviaram  o olhar  do que revela essa criminalidade. Permanecem escondidas as mudanças efetivas que precisam ser encaradas para diminuir crimes violentos, como este que nos horrorizou,  realizado para roubar um celular... 
Para entender quem são os adolescentes criminosos que despertaram o debate atual, é preciso considerar a segregação dos cidadãos nas periferias urbanas, as poucas políticas públicas dirigidas a eles, a falência da educação, da polícia, da justiça e a desigualdade de participação no bem estar comum que tudo isso ocasiona. Sem alterar estas condições, não se avança na desmontagem desta fábrica de violência  gerada por nossa organização social. Para testemunhá-la basta olhar para as matanças nos bairros periféricos de São Paulo no último ano.
O que pretendem alguns políticos é criar uma armadilha para nos afastar da discussão de suas más administrações e do modelo social que defendem, é criar a falsa impressão de que estão sendo cogitadas medidas acertadas contra a situação de calamitosa  insegurança e mal estar.
Não vamos nos iludir deixando diminuir a urgência em torno de mudanças profundas e amplas,  que realmente trariam mais segurança a todos.
Há experiências muito bem sucedidas de queda significativa na violência  entre jovens por meio da implementação de projetos sociais e educativos, destinados a dar a eles esperanças e realizações concretas de seus desejos de melhoria de vida (vide link abaixo). Por que não colocar nossa atenção sobre essas conquistas e batalhar para que sejam ampliadas?

www.ipea.gov.br/desafios/index.phpoption=com_content&view=article&id=1412:catid=28&Itemid=23

Helena Grinover e Marcia Arantes
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segunda-feira, 15 de abril de 2013

É meu!!!



























Algumas crianças, por volta de 3 anos de idade, estão brincando na areia, sob os olhares das mães, amigas entre si. Os apetrechos da brincadeira, baldes, pás e forminhas, pertencem a uma delas. Tudo parece harmônico até o momento em que uma garotinha, sem que os adultos saibam exatamente porque, resolve retirar os objetos, até então coletivos, com a famosa frase: ' É meu, não quero que você pegue!' ' Só a Bia pode pegar, você não, nem o Vitor'. A paz se dissolve: uns choram, outros resistem, outros se vangloriam por serem escolhidos... E as mães, não sabem o que fazer. Ficam meio constrangidas, tentando se desculpar....
As crianças passam por diferentes momentos em relação à posse de objetos. Os menores,  até aproximadamente 2 anos, não têm noção de 'meu e seu'. Apegam-se, muitas vezes, àquilo que estão segurando, mas sem a ideia de que lhes pertence.
Por volta dos 3 anos, principia a noção de que as coisas 'pertencem' a alguém, o que contribui para fortalecer a criança na sua identidade. Os objetos que ela possui a ajudam  a se perceber como uma pessoa diferente das outras, eles fazem parte de sua existência individual. Com esse entendimento vem também  o risco de perder e, de agora em diante, haverá uma fase em que ter ou não ter despertará fortes sentimentos e reações.
Algumas poderão ter mais dificuldades em momentos como esse da nossa história e, nestes casos, convém não forçá-las, pois isso complicará o aprendizado de atitudes de colaboração e generosidade, que dependem de condições psíquicas constituídas em tempos distintos para cada um.
É desejável que os adultos possam admitir filhos ou alunos que sejam `egoístas` por um certo período , que  ocorram certas choradeiras por causa de brinquedos não compartilhados...Para isso, é importante  perceber que essa dificuldade é própria do desenvolvimento até aproximadamente os quatro, cinco anos. A partir daí, os nossos futuros cidadãos podem começar a apresentar maior tolerância e desprendimento no intercambio social e pode- se solicitar mais deles.

Marcia Arantes e Helena Grinover

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terça-feira, 9 de abril de 2013

Tempo para os adultos



















Em matéria publicada pelo caderno Equilíbrio do jornal Folha de São Paulo no dia 12 de março de 2013, nos chamou a atenção o comentário de uma das entrevistadas. Referindo-se à vida das mães que gira em torno dos rebentos, ela disse : 'Eu estava preparada para isso quando decidi ser mãe. Mas faz falta ter uma vida social que não os inclua'. 
Sabemos que muitos adultos desejam ardentemente ter um tempo sem os pequenos para conversar com amigos, passear, viajar. É frequente que esses desejos sejam acompanhados de sentimentos de culpa, como se revelassem pouco amor pelos filhos, falta de responsabilidade, rejeição. As atividades profissionais, muitas vezes, são usadas como uma justificativa que aplaca as auto acusações. Entretanto, essas recriminações são muito questionáveis.
Estar junto dos filhos é exercer o papel de proteger, cuidar e civilizar ininterruptamente. 
As crianças fazem sempre inúmeras solicitações que, conforme o momento, tem de ser atendidas, moduladas ou negadas. Trata-se de frustrar ou realizar anseios que o adulto frequentemente ainda carrega consigo. Os pequenos trazem de volta nossa infância. Numa espécie de contramão do tempo, nos despertam fortes emoções e não é possível ficar  indiferente à criança.  Daí o custo de ficar  responsável por seu destino horas e dias a fio. 
O encontro com outros adultos, sem filhos para tomar conta, permite sair desse lugar e soltar os próprios impulsos de rir, falar, brincar, desejar, entre 'gente grande'... 
É extremamente necessário esse tempo para que os pais possam recarregar as energias psíquicas que os põem novamente disponíveis para os pequeninos. Trata-se de encontrar a melhor dose, para cada um, desse jogo do estar junto e separado...

Helena Grinover e Marcia Arantes

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terça-feira, 2 de abril de 2013

Questão de autoridade!



















A mãe de Julio, garoto de seis anos, está desesperada com as desobediências do filho: 'eu agora digo que vou bater se ele não me obedecer, mas não posso fica batendo o tempo todo. Às vezes, nem isso adianta, ele já sabe que nem sempre eu bato'.
A mãe de Camila responde: 'eu digo que vou falar para o pai dela e funciona'.
Após os cinco, seis anos aproximadamente, as crianças precisam mostrar certa capacidade de mudar de atitude apenas por meio de palavras. Por exemplo, dizer: 'estamos no cinema, aqui não se pode falar alto' ou 'as visitas se servem primeiro', deve ser suficiente para que procurem se comportar.Quando isso acontece, podemos dizer que a criança reconhece uma autoridade.
Privilegiar a linguagem na busca do entendimento e da aceitação dos limites, é absolutamente necessário para educar um ser humano para a convivência social.  
Caso não haja sinal desse avanço, o desenvolvimento e a sociabilidade podem ficar prejudicados. Todos nós já vimos aqueles pequenos `diabinhos´ indesejados, que não se integram em lugar algum.
As mães do Julio e da Camila adotam maneiras muito diferentes de educar. Aquela que ameaça bater não introduz na sua conversa com o filho uma outra pessoa, ou um conjunto de regras que ele deva respeitar. A situação fica apenas entre ela e ele, sendo que precisa sempre dominá-lo por meio de sua força física, no corpo a corpo. Isso, ao contrário do que se almeja, pode aumentar a desobediência. 
Já a mãe da Camila não precisa usar  a força física. Ela utiliza  o pai de sua filha como uma  referência que a apoia. Estabelece-se assim uma autoridade, que não precisa ser necessariamente o pai da criança: é alguém reconhecido e respeitado sem que precise estar  de corpo presente, basta que esteja em palavras...

Helena Grinover e Marcia Arantes
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