terça-feira, 21 de maio de 2013

Papai de quem?



















'Minha filha de quase 3 anos, há mais ou menos 6 meses,  começou a chamar o pai pelo seu nome ao invés de "papai". Por outro lado, quando estamos conversando entre nós, mãe e filha,  ela se refere a ele como "papai". O Papai dela é presente e acredito ter um relacionamento saudável com a filha. De onde será que vem essa preferência de chamá-lo pelo nome? ' Esta interessante pergunta nos é formulada pela leitora que relata a situação. 
Muitas crianças, nesse momento da vida, têm o mesmo comportamento da menininha da história: referem-se às figuras dos pais das duas formas, mostrando saber que ambas são pertinentes para nomeá-los. Ocorre-nos que, quando chamam o pai ou a mãe usando seus nomes próprios, utilizam as mesmas  denominações que o casal ao chamar um ao outro. Quando fazem isso os pequenos aparentemente deixam a posição de filhos para se colocarem nos lugares dos adultos, imitando a linguagem deles.
Trata-se do momento em que a criança se vislumbra já crescida, imagina-se na geração dos pais e exercita essa antecipação de muitas maneiras: encenando, imitando, usando as roupas, repetindo palavras...Esse faz de conta, esse jogo, não está necessariamente relacionado à ausência de um dos genitores, mas sim ao desejo de crescer. Entretanto, tudo ainda é para ela um grande mistério, não consegue entender bem o que determina a diferença do relacionamento entre os três. Haverá, portanto, uma grande investigação, onde várias hipóteses serão levantadas.
Ao longo do processo, necessário para a constituição de sua personalidade, ela sairá desse engodo em que se imagina participando do triângulo na mesma posição que os pais. Na adolescência, o caminho deverá culminar com a possibilidade  de compor outro casal...
Para criancinhas que estão nesse momento de 'pesquisa', brincadeiras sobre as várias posições na família podem ser interessantes. O papai   não é papai da mamãe; os avós sim, são  os pais do papai e da mamãe, mas o pai da mamãe, não é o pai do papai... 

Marcia Arantes e Helena Grinover
http://vivazpsicologia.blogspot.com.br/p/servicos_22.html


terça-feira, 14 de maio de 2013

Mãe estressada


























Caio acaba de vestir o uniforme de seu time e, cheio de si, diz apressadamente à sua mãe: `vamos  pro campo de futebol?'. Esta, com toda calma, responde: 'primeiro nós vamos almoçar, depois descansar um pouco e aí sim, futebol a tarde toda.' O garoto insiste: 'não quero almoçar, quero ir agora'. A mãe inicia uma longa argumentação discorrendo sobre a importância de comer para ter força, as coisas que não podem ser todas feitas na hora desejada, o domingo e a família reunida, etc... O menino não recua nem um milímetro de sua posição; ela tenta mais argumentos, ele teima e a situação termina assim: uma mulher exausta, gritando 'chega!' e uma criança chorando.
Costuma acontecer  algo assim quando o adulto ultrapassa  seu próprio limite. O desgaste atinge  todos os envolvidos, inclusive os que assistem a cena.
Esses raciocínios lógicos da mãe, são uma tentativa de evitar a sua própria decepção ao decepcionar o filho; a concordância do menino funcionaria como uma confirmação de que ela é uma 'boa' mãe.
Há momentos em que argumentar torna-se inútil. Uma determinação firme deve encerrar o assunto,  mesmo que cause certa dor: 'vamos almoçar primeiro, está decidido'.
Caio tem quatro anos e está longe de se influenciar por idéias sobre a importância da nutrição no desempenho dos jogadores de futebol, ou o almoço familiar de domingo.  Para ele a espera é frustrante, mas talvez fosse mais fácil do que enfrentar esse tumulto, com a mãe completamente descontrolada. Para ela, seria menos cansativo cortar o discurso, mostrando claramente para o filho que a decisão já havia sido tomada pelos adultos.

Helena Grinover e Marcia Arantes
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terça-feira, 7 de maio de 2013

Quanto custa formar um cidadão?



Imagine um adulto sadio, bonitos dentes, inserido no mercado de trabalho, respeitado, amoroso, bom cidadão, conhecedor de seus direitos e deveres...Se repassarmos sua história de vida, observaremos, com grande probabilidade, um desenvolvimento cercado por inúmeras condições. Centenas de vezes ele ouviu frases do tipo: 'escove os dentes', 'está na hora de dormir', 'já fez a lição? tem alguma dúvida?', 'cuidado, não mexa, é perigoso!', 'não bata no colega, ele não gosta!', ´devolva o brinquedo, não é seu!', 'onde está doendo? O que aconteceu?', 'está com medo?', 'você fez certo, muito bem!', 'arrume suas coisas', 'quem é a pessoa com quem vai sair?'
Desde antes dele nascer, sua mãe recebeu os devidos cuidados. Foi pego no colo milhares de vezes, amamentado e banhado outras milhares,  comemorou aniversários, ganhou presentes, foi à escola, praticou esportes, foi ao cinema, viajou, foi ao médico, ao dentista, leu livros, foi acompanhado em  atividades sociais... Contou com pessoas atentas, que estavam dispostas a passar horas do dia voltadas para ele.
Criar um ser humano saudável nos aspectos físicos e psíquicos, requer um longo processo, demanda muito trabalho, investimento afetivo e financeiro.
Sabemos ainda que tudo isso pode acontecer e o resultado não ser um  cidadão pleno, assim como o contrário. Não há garantias e é inescapável. Promover esse investimento e proteger os 'cidadãos em formação' por todos os meios, é função da sociedade. Negligenciar a atenção à infância e adolescência, dificultando o uso de recursos coletivos para essa finalidade é, este sim, um ato de extrema violência, que não tem merecido o devido destaque!