'De novo seu irmão chorando'? diz o pai, irritado. 'A culpa não é minha...' responde o garoto. 'Não quero saber, se seu irmão vier chorando mais uma vez, você vai ficar de castigo, uma semana sem televisão', é a resposta imediata.
Não é fácil lidar com essas situações repetitivas sem perder a paciência.
O que estará acontecendo entre os dois irmãos? O menor pode estar provocando, chorando por não saber responder de outra maneira, obtendo satisfação quando o pai pune o maior. O mais velho pode estar impaciente com a pouca capacidade do pequeno para suas brincadeiras, não percebendo sua própria força, expressando a raiva sem controle.
A resposta do garoto mostra que ele precisa se livrar rapidamente da culpa, já imaginando que será acusado de causar a infelicidade do irmão. O pai confirma esse pensamento ao ameaçar com o castigo automático.
Dar aos irmãos a palavra possibilitaria mostrar a cada um sua participação nas desavenças e responsabilizá-los por ela. Ouvir o que dizem a respeito é a única maneira de saber como o desentendimento é visto por eles e, então, oferecer-lhes alternativas que o adulto julgar adequadas.
Impor um castigo não permite à criança mudar a situação pela qual foi castigada, e a imobiliza na culpa. Ela não poderá fazer nada senão sofrer passivamente a pena imposta, no nosso exemplo 'ficar sem televisão'. Por outro lado, levá-la a perceber o que fez, oferecer-lhe um meio de reparar ativamente o erro cometido colabora para sua saúde psíquica, sua dignidade, sua formação ética. É ensinar o seguinte: você é o autor, a pessoa que fez a ação e pode também arcar com as consequências: pedir perdão, consertar o que quebrou, ajudar a quem prejudicou, alterar a brincadeira, colaborar para uma mudança efetiva de acordo com suas capacidades.
Todo ser humano tem direito a uma oportunidade para se redimir. Na infância, quando a criança é chamada a se responsabilizar, tem a chance de recuperar seu valor sem ficar inferiorizada pela culpa.
Helena Grinover e Marcia Arantes
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